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O crente e o uso de armas.


Nem tudo que é legal é moral, nem tudo que é moral é legal. Não se pode dizer que tudo que a lei dos homens permite , Deus também permite. Isso também não significa que tudo que Deus proíbe seja proibido pela lei humana.

Além disto, não é porque a lei  do país permite algo, que  automaticamente isso se torna moralmente aceitável. Pense por exemplo, que se uma cristã americana, residente no estado de New York, resolver abortar ela terá direito legal para fazer isso, mas moralmente ela não terá direito para fazer isso, segundo as diretrizes da Palavra de Deus.
A Bíblia é o grau absoluto pelo qual abalizamos nossa conduta.





O que a Bíblia diz sobre porte de armas? O direito 
de reagir e sobre defesa pessoal?


Escolhi não usar o Antigo Testamento aqui, vou justificar minha decisão.
Primeiramente, não se pode utilizar o contexto das guerras do povo de Israel no Antigo Testamento para referendar o uso de armas,   pois o contexto do AT era específico para aquela região, aquele povo e para aquele momento: Israel deveria desalojar e liquidar todo povo cananeu da região e olhar sem piedade animais, crianças, mulheres, idosos e deficientes. Enfim, deveria destruir tudo que tivesse vida. Parece-nos cruel, e é, mas foi uma ordem específica para o Antigo Testamento. Este também é um tema muito complexo e polêmico que não vou tratar aqui neste texto.
Também não posso utilizar a lei mosaica como parâmetro, pois a Lei também se dirigia à sociedade que estava sendo organizada, e não havia um sistema de segurança estabelecido, cada um defendia a própria casa, não existia algo como polícia de hoje.

Para saber sobre nossa realidade, neste nosso contexto, vamos para o Novo Testamento. Ali havia a segurança do império Romano, com suas leis e garantias processuais. Temos aqui condições de estabelecer bons parâmetros para esta questão, senão vejamos.
A Bíblia não proíbe nem recomenda o uso de armas. Em nenhuma parte nem do Antigo, nem do Novo Testamento. E não se pode argumentar que não existiam armas como as de hoje na época de Cristo, pois as armas da época eram as espadas, e Jesus nunca proibiu seu uso. Nem Jesus, nem Paulo, João, Pedro, e nenhum outro escritor do NT fala diretamente sobre armas.  Portanto, não posso simplesmente chegar para o meu irmão e aplicar um versículo dizendo: "você não pode usar armas" .
A Bíblia porém tem uma mensagem clara sobre a violência e sobre a vingança, isso deve nortear o pensamento cristão a respeito disso.




A vingança e a reparação

O princípio de Jesus é claramente o da não-violência, “pois a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tiago 1.20). Fica nítido que a vingança, a retaliação e a punição não fazem parte da vida cristã. Qualquer  punição ou reparação devida  por furto, assalto ou danos deve ser encaminhado para a justiça secular. Aqui está introduzido a ideia de Governo humano e Estado. 

A Palavra de Deus é clara ao separar os deveres do governo civil e os deveres de um indivíduo. Ou seja, Deus delegou ao magistrado civil a administração da justiça, seja buscando o ladrão, seja processando uma empresa, seja punindo com prisão um agressor.Deus criou o governo para estabelecer a ordem, punir o mal e promover a justiça (Gênesis 9.6; 1 Coríntios 14.33; Romanos 12.8).  A vingança deve ser deixada de lado e a reparação dos danos fica a cargo da justiça secular, mesmo que esta seja , muitas vezes, frágil, parcial e leniente com o infrator. Somos chamados à paz e ao perdão. Devemos orar e entregar nas mãos de Deus a nossa causa, para que ele intervenha na justiça humana.




Defesa pessoal

Por outro lado os indivíduos têm a responsabilidade de proteger suas vidas dos agressores. O dever da polícia é proteger a sociedade, como um todo, e seus cidadãos. O cristão  assume o dever, prioritário, de proteger a si mesmo e a sua família. 
Deus não abona a conduta de um covarde que, em nome da "pacificação" fica parado enquanto sua esposa é agredida, ou seu filho torturado.  Em casos onde sua família esteja em risco ele tem o dever de agir, se preciso, com o uso da força.

Paulo escreve em uma carta a Timóteo: “Mas se alguém não provê para si próprio, e especialmente para os de sua casa, ele abandonou a fé e é pior do que um incrédulo” (1 Tim. 5.8). 
Alimento, abrigo, roupa, saúde, e a segurança são as necessidades básicas de uma família e o esposo tem dever de supri-las.

Se um bandido entrar em minha casa e ameaçar a minha vida e a de minha família, ou estiver a ponto de matá-los, é claro que é minha obrigação protegê-los, da maneira mais eficaz possível. Se eu tiver um pedaço de pau, um martelo, uma pedra eu atiro por cima, se eu tiver uma faca também, em casos como este até mesmo uma cadeira vira uma arma letal. E se eu tiver um revólver? Posso ou não usá-lo neste caso? A resposta é auto-evidente.



Então posso ter uma arma de fogo?

Biblicamente, se a legislação permitir não há um impedimento objetivo.
Mas espere aí, antes de sair dizendo que eu recomendo uso de armas, fica uma orientação séria  e algumas perguntas. Observe  estas considerações:

-->   Sim  Moro em área rural, onde o acesso à polícia é demorado e o risco de ser vítima de bandidos é grande.

-->  Sim  Moro em área urbana de grande risco, como grandes cidades onde a violência é extrema e a polícia não consegue dar conta minimamente da segurança.

-->   Sim  Possuo meios de cumprir a legislação para posse segura e treinada da arma. Afinal ela pode ser extremamente perigosa  para mim se   não estiver treinado e seguro sobre seu uso.

-->   Sim Tenho condições emocionais para ter, ou seja, me considero suficientemente tranquilo, equilibrado e temente a Deus para evitar o uso precipitado. ( avaliação sincera e crítica)

-->    Sim  Pretendo utilizá-la exclusivamente para defesa pessoal em casos de agressão extrema e/ou violenta. Não estou pensando em evitar um furto, ou um dano material apenas. Não estou pensando em sair à caça de um bandido como se fosse um justiceiro.

Se você não responde sim, com tranquilidade e convicção cristã, a estas questões,  ter uma arma de fogo pode trazer grandes problemas. Pense que você pode ser  culpado pela morte de outro ser humano, devido ao uso desnecessário da arma de fogo. Isso pode gerar desgastes e problemas seríssimos, tanto com a lei humana quanto com a consciência moral.

Como sabemos, o aumento do poder exige um aumento de responsabilidades. Por isso o uso da arma de fogo deve ser bem restrito e responsável. E deve ser abalizado pela consciência cristã. Se você não se sente confortável em possuir uma arma, então não possua, sirva sua consciência de baliza.
Eu, por exemplo, como crente, na cidade em que vivo, nas condições que estou, não me sentiria justificado biblicamente para ter uma arma em casa, mas  se morasse no centro do Rio de Janeiro, talvez.








Comentários

Hermecildes disse…
Ótimo texto, pontua e esclarece, e
não deixa polarizar um assunto que cria muitas controvérsias
Obrigado. Procurei mesmo não polarizar.

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