A
ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER
Por Alderi Souza de Matos
1. Antecedentes: o rei Carlos I (1625-1649) procurou impor o
anglicanismo aos puritanos ingleses e aos presbiterianos escoceses. Porém,
estes últimos se rebelaram e enfrentaram com êxito os exércitos reais.
Precisando de mais tropas e dinheiro, Carlos viu-se forçado a promover a
eleição de um parlamento. Para frustração do rei, os ingleses elegeram um
parlamento puritano, que foi prontamente dissolvido. Feita nova eleição, a
maioria puritana tornou-se ainda mais expressiva. Diante da recusa do
parlamento em ser novamente dissolvido, resultou uma guerra civil.
2. A Assembléia: por setenta e cinco anos os puritanos vinham
insistindo para que a Igreja da Inglaterra tivesse uma forma de governo,
doutrinas e culto mais puros. Assim, o parlamento convocou a Assembléia de
Westminster, composta de 121 dos mais capazes pastores da Inglaterra, 20
membros da Casa dos Comuns e 10 membros da Casa dos Lordes. Todos os 121
teólogos eram ministros da Igreja da Inglaterra e quase todos eram calvinistas.
Quanto ao governo da Igreja, a maioria era a favor da forma presbiteriana,
muitos desejavam a forma congregacional e uns poucos defendiam a forma
episcopal. Essa questão gerou os debates mais longos e acalorados da
Assembléia, que se reuniu na Abadia de Westminster, em Londres, a partir de 1º
de julho de 1643. Os trabalhos se estenderam por cinco anos e meio, durante os
quais houve mais de mil reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões
e subcomissões.
3. Os escoceses: tão logo a Assembléia iniciou os seus trabalhos,
as forças parlamentares começaram a sofrer reveses na guerra. O parlamento
buscou o auxílio da Escócia, que concordou em ajudar sob uma condição – que
todos os membros da Assembléia de Westminster e do parlamento assinassem um
pacto solene comprometendo-se a manter e defender a Igreja Presbiteriana da
Escócia e a reformar a Igreja da Inglaterra e da Irlanda em sua doutrina,
governo, culto e disciplina, de acordo com a Palavra de Deus. Isso foi aceito.
Os presbiterianos escoceses também puderam enviar representantes à Assembléia
de Westminster, quatro pastores e dois presbíteros, que participaram dos
trabalhos sem direito a voto. Eles exerceram uma influência desproporcional ao
seu número. Logo que chegaram e foi assinado o pacto solene (setembro de 1643),
houve uma mudança radical no trabalho da Assembléia. Até então, a idéia era
revisar os Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana. Agora,
passou-se a fazer uma reforma completa da Igreja.
4. Os documentos: a Assembléia de Westminster caracterizou-se não
somente pela erudição teológica, mas por uma profunda espiritualidade.
Gastava-se muito tempo em oração e tudo era feito em um espírito de reverência.
Cada documento produzido era encaminhado ao parlamento para aprovação, o que só
acontecia após muita discussão e estudo. Os chamados “Padrões Presbiterianos”
elaborados pela Assembléia foram os seguintes:
(a) Diretório do Culto Público: concluído em dezembro de 1644 e
aprovado pelo parlamento no mês seguinte. Tomou o lugar do Livro de
Oração Comum. Também foi preparado o Saltério: uma versão
métrica dos Salmos para uso no culto (novembro de 1645).
(b) Forma
de Governo Eclesiástico: concluída em 1644 e aprovada pelo parlamento em
1648. Instituiu a forma de governo presbiteriana em lugar da episcopal, com
seus bispos e arcebispos.
(c) Confissão
de Fé: concluída em dezembro de 1646 e sancionada pelo parlamento em março
de 1648.
(d) Catecismo
Maior e Breve Catecismo: concluídos no final de 1647 e
aprovados pelo parlamento em março de 1648.
5. Conseqüências: com o auxílio dos escoceses, as forças parlamentares
derrotaram o rei Carlos I, que foi decapitado em 1649. O comandante vitorioso,
Oliver Cromwell, assumiu o governo. Porém, em 1660, Carlos II subiu ao trono e
restaurou o episcopado na Igreja da Inglaterra. Teve início uma nova era de
perseguições contra os presbiterianos. Na Escócia, a Assembléia Geral da Igreja
Presbiteriana adotou os Padrões de Westminster logo que foram aprovados,
deixando de lado os seus próprios documentos de doutrina, liturgia e governo
que vinham da época de John Knox. Isso é ainda mais surpreendente diante do
fato de que somente quatro pastores escoceses participaram da Assembléia de Westminster
(Alexander Henderson, Robert Baillie, George Gillespie e Samuel Rutherford). As
razões para isso foram os méritos dos padrões de Westminster e o desejo de
maior unidade entre os presbiterianos das Ilhas Britânicas. Da Escócia, esses
padrões foram levados para outras partes do mundo.
Alderi Souza de Matos é um professor, teólogo,
historiador, pastor, escritor e apresentador televisivo presbiteriano
brasileiro, que é atualmente o historiador oficial da Igreja Presbiteriana do
Brasil.
A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER
Por Alderi Souza de Matos
1. Antecedentes: o rei Carlos I (1625-1649) procurou impor o anglicanismo aos puritanos ingleses e aos presbiterianos escoceses. Porém, estes últimos se rebelaram e enfrentaram com êxito os exércitos reais. Precisando de mais tropas e dinheiro, Carlos viu-se forçado a promover a eleição de um parlamento. Para frustração do rei, os ingleses elegeram um parlamento puritano, que foi prontamente dissolvido. Feita nova eleição, a maioria puritana tornou-se ainda mais expressiva. Diante da recusa do parlamento em ser novamente dissolvido, resultou uma guerra civil.
2. A Assembléia: por setenta e cinco anos os puritanos vinham insistindo para que a Igreja da Inglaterra tivesse uma forma de governo, doutrinas e culto mais puros. Assim, o parlamento convocou a Assembléia de Westminster, composta de 121 dos mais capazes pastores da Inglaterra, 20 membros da Casa dos Comuns e 10 membros da Casa dos Lordes. Todos os 121 teólogos eram ministros da Igreja da Inglaterra e quase todos eram calvinistas. Quanto ao governo da Igreja, a maioria era a favor da forma presbiteriana, muitos desejavam a forma congregacional e uns poucos defendiam a forma episcopal. Essa questão gerou os debates mais longos e acalorados da Assembléia, que se reuniu na Abadia de Westminster, em Londres, a partir de 1º de julho de 1643. Os trabalhos se estenderam por cinco anos e meio, durante os quais houve mais de mil reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões e subcomissões.
3. Os escoceses: tão logo a Assembléia iniciou os seus trabalhos, as forças parlamentares começaram a sofrer reveses na guerra. O parlamento buscou o auxílio da Escócia, que concordou em ajudar sob uma condição – que todos os membros da Assembléia de Westminster e do parlamento assinassem um pacto solene comprometendo-se a manter e defender a Igreja Presbiteriana da Escócia e a reformar a Igreja da Inglaterra e da Irlanda em sua doutrina, governo, culto e disciplina, de acordo com a Palavra de Deus. Isso foi aceito. Os presbiterianos escoceses também puderam enviar representantes à Assembléia de Westminster, quatro pastores e dois presbíteros, que participaram dos trabalhos sem direito a voto. Eles exerceram uma influência desproporcional ao seu número. Logo que chegaram e foi assinado o pacto solene (setembro de 1643), houve uma mudança radical no trabalho da Assembléia. Até então, a idéia era revisar os Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana. Agora, passou-se a fazer uma reforma completa da Igreja.
4. Os documentos: a Assembléia de Westminster caracterizou-se não somente pela erudição teológica, mas por uma profunda espiritualidade. Gastava-se muito tempo em oração e tudo era feito em um espírito de reverência. Cada documento produzido era encaminhado ao parlamento para aprovação, o que só acontecia após muita discussão e estudo. Os chamados “Padrões Presbiterianos” elaborados pela Assembléia foram os seguintes:
(a) Diretório do Culto Público: concluído em dezembro de 1644 e aprovado pelo parlamento no mês seguinte. Tomou o lugar do Livro de Oração Comum. Também foi preparado o Saltério: uma versão métrica dos Salmos para uso no culto (novembro de 1645).
(b) Forma
de Governo Eclesiástico: concluída em 1644 e aprovada pelo parlamento em
1648. Instituiu a forma de governo presbiteriana em lugar da episcopal, com
seus bispos e arcebispos.
(c) Confissão
de Fé: concluída em dezembro de 1646 e sancionada pelo parlamento em março
de 1648.
(d) Catecismo
Maior e Breve Catecismo: concluídos no final de 1647 e
aprovados pelo parlamento em março de 1648.
5. Conseqüências: com o auxílio dos escoceses, as forças parlamentares derrotaram o rei Carlos I, que foi decapitado em 1649. O comandante vitorioso, Oliver Cromwell, assumiu o governo. Porém, em 1660, Carlos II subiu ao trono e restaurou o episcopado na Igreja da Inglaterra. Teve início uma nova era de perseguições contra os presbiterianos. Na Escócia, a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana adotou os Padrões de Westminster logo que foram aprovados, deixando de lado os seus próprios documentos de doutrina, liturgia e governo que vinham da época de John Knox. Isso é ainda mais surpreendente diante do fato de que somente quatro pastores escoceses participaram da Assembléia de Westminster (Alexander Henderson, Robert Baillie, George Gillespie e Samuel Rutherford). As razões para isso foram os méritos dos padrões de Westminster e o desejo de maior unidade entre os presbiterianos das Ilhas Britânicas. Da Escócia, esses padrões foram levados para outras partes do mundo.
Alderi Souza de Matos é um professor, teólogo, historiador, pastor, escritor e apresentador televisivo presbiteriano brasileiro, que é atualmente o historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil.
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