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Concretude e permanência da felicidade



Não há consenso entre os estudiosos para o que seja realmente  A “felicidade”. Para a maioria de nós a ideia de felicidade seria  um sentimento de plenitude e alegria,  misto de prazer e satisfação que cada pessoa encontra em coisas diferentes. É complicado dizer o que seria preciso para que um homem em geral possua a felicidade . Se cada um deseja uma coisa , então cada um tem um padrão de felicidade.Há quem diga que algumas coisas são suficientes para a felicidade,  ter saúde, dinheiro, sucesso nos negócios, família boa, prazeres, bem estar físico, mental, psicológico e espiritual…

Mas a satisfação de determinado anseio ou desejo  mostra-se sempre incapaz de gerar felicidade permanente, pois logo outro desejo toma o lugar do primeiro e já perdemos a satisfação com o que possuímos. Por isso muitos filósofos entendem a felicidade como uma percepção passageira.
Neste trecho da obra "The Emptiness of Existence",   Arthur Schopenhauer  reflete sobre a ideia de felicidade.

"Num mundo como este, onde nada é estável e nada perdura, mas é arremessado em um incansável turbilhão de mudanças, onde tudo se apressa, voa, e mantém-se em equilíbrio avançando e movendo-se continuamente, como um acrobata em uma corda – em tal mundo, a felicidade é inconcebível. Como poderia haver onde, como Platão diz, tornar-se continuamente e nunca ser é a única forma de existência. Primeiramente, nenhum homem é feliz; luta sua vida toda em busca de uma felicidade imaginária, a qual raramente alcança, e, quando alcança, é apenas para sua desilusão; e, via de regra, no fim, é um náufrago, chegando ao porto com mastros e velas faltando. Então dá no mesmo se foi feliz ou infeliz, pois sua vida nunca foi mais que um presente sempre passageiro, que agora já acabou."

Para contrapor a essa ideia de impermanência da felicidade vamos analisar o pensamento de outra grande figura da humanidade: Mahatma Gandhi, atribui-se a ele esta frase:

"Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho."

Neste caso buscar algo, um bem ou um ideal seria já o momento de perceber a felicidade. Você estaria então satisfeito ao buscar esse algo. O caminho até este objetivo  seria a felicidade.  A pergunta que deveríamos fazer a Gandhi é:
Que caminho é esse que garante a felicidade? Todos os caminhos levam a felicidade? Se sim, então um traficante deveria ser feliz, ou um mendingo, um molestador, um político corrupto deveria se sentir feliz? Se não importa o caminho então encontrar a felicidade é natural e não depende de nenhum esforço ou dedicação nossa? Qualquer busca egoísta poderia ser considerada um caminho legítimo para encontrar a felicidade?

Bom, então podemos completar o pensamento de Gandhi dizendo que somente o caminho da virtude levaria a verdadeira felicidade. Essa é uma ideia complementar,  a busca por um objetivo nobre e justo , usando de meios honestos deveria ser o caminho da felicidade.
É fácil concordar com este ponto de vista até percebermos que não é fácil achar um consenso sobre virtude e nobreza. Nem todos concordamos com o que seja essencialmente virtude. A felicidade para Gandhi não parecia nada concreto, verdadeiro e objetivo. Dependeria muito de cada pessoa e do momento em que ela vive.
Supondo que, para um pai de familia, desempregado e desesperado, com os filhos famintos seja justo roubar uma padaria para alimentar os seus filhos, a felicidade estaria no ato completo desta ação ao saciar a fome dos filhos.  Mas e se o padeiro também tiver familia e contar com  o dinheiro deste dia para pagar suas contas e manter sua alimentação em dia? Aí seria mais complicado aceitar que a felicidade do que roubou seja  justa ou nobre.  Difícil decidir não é?
Difícil procurar e difícil de encontrar algo tão abstrato. A felicidade não pode ter parâmetros tão vagos para ser estabelecida.
Parece que falta concretude nestas definições, falta materialidade, se tudo é subjetivo não há caminho para se percorrer e não há lugar para se encontrar a tal felicidade. Se todos são os caminhos então não há caminho.
Na verdade temos diversas definições  para qual  seja o caminho da felicidade, além da definição de Schopenhauer e Gandhi., mas todas também apontam para coisas subjetivas como virtude, paz, alegria e contentamento. Todas tem seus trunfos e suas fraquezas e é bom refletir sobre elas.Porém eu gostaria de fazer uma última definição de felicidade.

Penso que a felicidade seja uma busca constante de algo que já se tem. Esse algo seria a presença de Deus. Uma busca permanente mesmo já possuindo essa presença. Entendo que somente  isso traz verdadeira, concreta e permanente felicidade.
Para embasar isso há o texto das bem-aventuranças que  mostram as atitudes que agradam a Deus e que trazem  sua presença para perto de nós . Bem aventurado é o homem que busca ao Senhor e pratica atitudes dignas de um seguidor de Cristo.As bem-aventuranças são objetivas, claras e de fácil compreensão.

Mateus 5:3–12
3  Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;

4  Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

5  Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;

6  Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;

7  Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

8  Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus;

9  Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;

10  Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;

11  Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, falarem todo mal contra vós por minha causa.

12  Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.



Deste modo elas apontam o caminho que o homem deve percorrer e também a suprema alegria por percorrer este caminho. Jesus não deixa dúvida, mas mostra exatamente qual é o comportamento esperado de um homem no caminho da felicidade.Sem ambiguidades, sem abstrações, sem espaço para invenções ou criatividades , sem muitos caminhos nem divagações.
A felicidade de Gandhi é um conceito abstrato e indefinível  (como percorrer um caminho que não sabemos qual é?) . Por outro lado, a felicidade de Schopenhauer era  sempre provisória e impermanente.
Porém a felicidade de Cristo é concreta e permanente, pois ao fim desta vida nos aguarda outra, tão mais bela e feliz do que esta , e estaremos para sempre com ele na glória eterna .

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