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Avivamento do Espírito Santo.


Neste texto, abordaremos a distinção entre uma experiência emocional vazia e o avivamento pessoal que é essencial para todo cristão. Entendo que a presença do Espírito Santo é muito mais do que uma mera experiência, pois é um processo contínuo que se desenvolve na vida do verdadeiro cristão, tornando-se evidente em seu caráter interior.

De acordo com Lloyd-Jones em sua obra "A Vida no Espírito", o batismo no Espírito é uma capacitação de poder concedida com o objetivo de realizar uma tarefa específica. Para exemplificar, o autor menciona passagens bíblicas como Êxodo 31:2-4, Lucas 1:15, Lucas 1:41-42 e Lucas 1:67. Dessa forma, fica evidente que a investidura de poder é algo significativo e consciente na vida do cristão.

Uma imagem que aprecio para ilustrar a necessidade de avivamento na comunidade cristã é a de uma vela prestes a se apagar, cujo calor é mínimo, imperceptível e tímido. Contudo, quando alguém coloca um fósforo ardendo em seu pavio, a chama é reacendida, iluminando o ambiente. Da mesma forma, a comunidade cristã precisa ser “redespertada” de tempos em tempos para renovar sua devoção a Cristo. Assim a comunidade brilha e ilumina a sociedade cada vez mais corrompida.

Essa imagem é uma boa analogia para ilustrar a necessidade de avivamento na vida cristã. Como disse o teólogo Jonathan Edwards: "O avivamento é como um vento que sopra, levantando a chama de uma vela fraca e fazendo-a arder com mais intensidade". O avivamento é um despertar da igreja para uma vida de maior devoção a Deus, renovando o compromisso com a fé e com a missão de pregar o Evangelho. Como disse o apóstolo Paulo: "Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará" (Efésios 5:14).

Para   Lloyd-Jones,  um cristão que está cheio do poder do Espírito deve estar pronto a fazer o que  for necessário para cumprir a vontade do Senhor. Para ele esse acontecimento é um milagre repentino e inesperado, que não depende de modo algum do homem, seja em forma de sacrifício ou disciplina espiritual.

Neste sentido, Deus tem liberdade para pegar um dependente químico, uma prostituta , um ladrão  e tomá-lo  pelo poder do Alto transformando-o instantaneamente em um poderoso evangelista. Estas  pessoas tiveram  a oportunidade de ouvir a poderosa mensagem do evangelho, crer e ser restaurado. Para  Lloyd-Jones esta experiência seria uma capacitação especial de poder para proclamar com intrepidez o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

É  importante destacar que a experiência  percebida em  atos   é irrepetível, foi um momento   decisivo que marcou o início da história da Igreja. Como dissemos, e frisamos agora, este evento não se repete hoje em dia. Na Bíblia o que percebemos é uma crescente do alcance do poder divino, como que revestindo com a experiência apostólica, em grau efetivamente menor, em outros contextos. Samaritanos e Romanos recebendo o mesmo poder de Atos 2.  Perceba que “Enchei-vos do Espírito” como lemos em Efésios 5.18 é um mandamento e não uma experiência. Observando o texto, parece claro que precisamos ser constantemente revestidos de poder. O que o pentecostalismo enxerga como batismo os protestantes tradicionais enxergam como avivamento, sendo este último termo, mais adequado.

Temos muitos casos de pessoas que foram impactadas com poder sobrenatural de Deus, mas não denominaram isso de "batismo". Percebemos, por exemplo, essa graça fora do comum em John Wesley, Jonathan Edwards, Evan Roberts, Charles Spurgeon, e atualmente os tradicionais John Piper e o Reverendo Hernandes Dias Lopes,  teólogos calvinistas que acreditam, em alguma medida, na contemporaneidade de alguns dons espirituais. 

 

Deus usa homens avivados para avivar a Igreja 

Eu não defendo que estes homens passaram por uma experiência nos moldes pentecostais, pois    estes moldes foram corrompidos. Esta claro que  foram agraciadas  por Deus com um poder especial que vem do céu para cumprirem suas missões. Um excelente nome para isso seria avivamento. O verdadeiro avivamento é um movimento espiritual que acontece quando uma comunidade cristã é renovada em sua fé e compromisso com Deus, experimentando um despertar espiritual profundo e duradouro. Esse tipo de avivamento não se concentra em experiências emocionais passageiras ou em uma busca por sensações ou espetáculos religiosos, mas sim em um retorno ao essencial da fé cristã: a comunhão com Deus, a transformação interior e a prática da justiça e da misericórdia. Há cristãos que passam pelo avivamento pessoal, sem que a comunidade a sua volta também passe.

Por outro lado, o emocionalismo vazio é um fenômeno que pode ocorrer em contextos religiosos quando as emoções são colocadas em primeiro plano, sem um compromisso genuíno com a fé cristã e sem uma preocupação real com a transformação interior e a prática da justiça. Nesses casos, as emoções são utilizadas como um fim em si mesmas, sem um propósito maior. Isso pode levar a uma busca constante por experiências emocionais cada vez mais intensas, sem que haja uma mudança real de vida. Como dizia - Jonathan Edwards: "O avivamento é o trabalho de Deus, não dos homens. Não pode ser gerado por manipulação ou técnica, mas é uma obra soberana do Espírito Santo em resposta à oração fervorosa e fiel da igreja."

Enquanto o emocionalismo vazio é superficial e busca apenas experiências e milagres passageiros, o verdadeiro avivamento é um movimento espiritual profundo que se reflete em uma vida transformada e comprometida com Deus, de forma alegre e humilde. No entanto, é importante reconhecer que nem todos podem alcançar o nível de espiritualidade de grandes líderes da fé como Wesley, Spurgeon e Hernandes Dias Lopes. Essa graça pertence a Deus e ele a concede a quem ele desejar, como um milagre. Discordo daqueles que afirmam que basta buscar e qualquer um pode ser um Billy Graham ou um Spurgeon, pois cada um tem sua própria vocação divina. A proposta para nossos dias é que busquemos ser pessoas avivadas em nossas igrejas e nações, e isso não é pouco.

As pessoas avivadas são aquelas que possuem uma disposição contínua para servir ao Senhor, motivadas a trazer a glória de Cristo para a sociedade, ajudando os necessitados, evangelizando os perdidos e ensinando o caminho da verdade. Além disso, buscam constantemente a comunhão com o Espírito Santo, evitando qualquer coisa que possa entristecê-lo, como a rebeldia, desordem, divisão e indisciplina (Efésios 4.30). Essa busca pela intimidade com Deus é uma marca inconfundível dos crentes avivados. 

 

O que significa ser falsamente avivado? 

Pessoas falsamente avivadas podem confundir manifestações emocionais, como línguas estranhas, pulos, gritos e sapateados, com o poder de Deus. No entanto, essas são apenas expressões superficiais que podem prejudicar a ordem do culto. Atitudes extravagantes, gestos exagerados e misticismo devem ser evitados. O verdadeiro servo do Senhor controla suas emoções  (1 Coríntios 4:32) e as canaliza para manifestar a glória de Deus na sociedade. Essas pessoas, muitas vezes, acabam causando divisões na igreja, formando grupos de "elite espiritual" que se consideram superiores e julgam-se mais espirituais do que os outros. Essa tendência pode levar ao legalismo e causar prejuízos à unidade e ao crescimento da igreja.  Tendem a desprezar o conhecimento profundo da Palavra de Deus e costumam usar o bordão "a letra mata, mas o Espírito vivifica" (2 Coríntios 3.6) fora do contexto original. Isso resulta em uma aversão ao estudo bíblico, em nome de uma falsa devoção que mais parece orgulho e exibicionismo espiritual. Elas tendem a se vangloriar do tempo que gastam em "oração" e dos "milagres" que já presenciaram, tudo lamentavelmente feito para glória e orgulho humano. 

Para concluir este importante assunto, é importante destacar duas coisas: sem buscar a Cristo e sem arrependimento, ninguém pode experimentar um avivamento pessoal verdadeiro. O avivamento pessoal genuíno começa com uma busca sincera pelo Senhor, o que envolve oração, leitura da Bíblia e adoração a Deus. Além disso, reconhecer e confessar os pecados é um passo indispensável em direção ao avivamento pessoal, incluindo buscar o perdão de Deus e perdoar os outros. Embora isso não seja o mesmo que o Batismo com o Espírito Santo, é o verdadeiro  avivamento do Espírito Santo. Desejo que você tenha um maravilhoso avivamento pessoal. 

 

Referências 

Edwards, J. (1959). A Faithful Narrative of the Surprising Work of God: A Contemporary Account of the Great Awakening in America, 1735-1740. New Haven, CT: Yale University Press. 

Lloyd-Jones, D. M. (1989). A Vida no Espírito: Estudos sobre a doutrina do Espírito Santo. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas. 

J.I. Packer. Knowing God. Editora InterVarsity Press, 1993. 

Jonathan Edwards. The Religious Affections. Editora Yale University Press, 2013.

 

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