"A minha alma tem observado os teus testemunhos; eu os amo ardentemente."
Salmo
119.167
Ao analisarmos o texto original em hebraico, chama a atenção à palavra מְאֹד (meod), traduzida aqui como “ardentemente”. Esse advérbio aparece três vezes ao longo do Salmo 119, sempre expressando uma intensidade extraordinária.
שָׁמְרָה נַפְשִׁי עֵדֹתֶיךָ וָאֹהֲבֵם מְאֹד׃
shameráh nafshí edotêcha va’ohavém meod
guardou minha alma teus testemunhos e os amo ardentemente
No
Salmo 119, meod é usado para:
Intensificar
o zelo (v.4)
Ressaltar
a imensidão da Lei (v.96)
Exprimir
amor profundo e sincero (v.167)
O
uso repetido de meod reforça que a relação do salmista com a Palavra de DEUS é
intensa, profunda e até mesmo apaixonada. Mas afinal, o que há na Lei de
DEUS que a torna tão fascinante para o salmista?
Vale
lembrar que, ao compor este texto, o autor ainda não possuía a Bíblia completa
como a conhecemos hoje. É possível até que nem todo o Antigo Testamento
estivesse reunido ou finalizado. Considerando as possibilidades prováveis de
autoria — seja Davi, ou mais plausivelmente Esdras, ou um escriba judeu
pós-exílico desconhecido — o “corpo” da revelação acessível ao salmista era
limitado em comparação ao que temos hoje.
Mesmo
assim, o salmista encontrava ali motivos suficientes para amar intensamente a Palavra
de DEUS. Isso nos leva a refletir:
O
que há de maravilhoso em Gênesis? No Êxodo? Em Juízes?
Será
que ele se referia apenas aos 613 mandamentos da tradição judaica? Certamente não. A expressão “Lei” (Torá) tinha um
sentido mais amplo. Ela incluía não apenas preceitos e estatutos, mas também
narrativas sagradas, atos poderosos de DEUS, e histórias fundadoras da fé de
Israel. A “Lei”, portanto, era muito mais que regras — era uma revelação viva,
um testemunho do modo como DEUS age, ama, cuida, liberta e conduz seu povo.
O
que ele conhecia?
Se
for Davi (c. 1000 a.C.): provavelmente tinha acesso à Torá (Pentateuco)—
Gênesis a Deuteronômio e talvez Josué e Juízes.
Se
for Esdras ou um autor pós-exílico (séc. V–IV a.C.): além da Torá, já
circulavam textos como Josué, Juízes, Reis, Salmos anteriores, e talvez os
profetas (ou fragmentos).
Essas narrativas eram fontes vivas de ensinamento sobre a fidelidade e o caráter de DEUS, sobre sua aliança, misericórdia e poder redentor. O modo como DEUS tratava Israel — com justiça e amor — tornava a Palavra digna de ser conhecida, seguida e amada. Sim, digna do uso de meod.
E
por que o uso de meod no final do versículo 167?
O
advérbio מְאֹד (meod), com o sentido de “muito”, “grandemente”, “intensamente”,
“ardentemente”, serve como ênfase emocional. O salmista quer mostrar que seu
amor não é superficial, mas profundamente entranhado em sua alma. A repetição
do pronome três vezes neste salmo intensifica ainda mais esse comprometimento
pessoal com os testemunhos de DEUS.
E
nós, hoje?
Se o salmista amava ardentemente as Escrituras com base no que ele
conhecia, quanto mais nós — que temos acesso à revelação plena, incluindo o
Novo Testamento, os relatos sobre a vida de nosso Senhor Jesus Cristo, os
ensinamentos apostólicos, e o desfecho glorioso da história revelado no
Apocalipse?
Sim,
temos ainda mais razões para amar intensamente as Sagradas Escrituras.
O texto sagrado é meod para você?
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