Uma das passagens mais chocantes da Bíblia é justamente o trecho que demonstra claramente a humanidade de Cristo. O relato inicia após o Senhor terminar a Última Ceia, ir para o monte das Oliveiras e chegar com os Apóstolos a um lugar chamado Getsêmani. É quando ele chama seus discípulos mais íntimos para um momento derradeiro de oração:
"E tomou
consigo a Pedro, e a Tiago, e a João e começou a ter pavor e a angustiar-se. E
disse-lhes: A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e
vigiai. E, tendo ido um pouco mais adiante, prostrou-se em terra; e orou para
que, se fosse possível, passasse dele aquela hora." Marcos 14.33-35
É comum enfatizarmos tanto a divindade de Cristo que desta forma corremos o risco de menosprezarmos a sua natureza absolutamente humana. Eu gostaria que pudéssemos considerar a natureza humana de Jesus neste texto. Aqui lemos sobre o Filho de Deus, Jesus Cristo, tomado de angústia e pavor, sentimentos perfeitamente humanos, e isso só foi possível porque Jesus era perfeitamente humano.
O ensino da encarnação afirma que Deus Filho deixou a eternidade para tomar a forma humana, nasceu como homem (encarnou), para habitar entre nós, sua criação. Para que deixasse seu trono e sua majestade foi preciso que se esvaziasse de sua glória e se fizesse semelhante aos seres humanos. Jesus foi uma criança, um adolescente com suas limitações naturais (Lucas 2.40, 52), ele teve fome (Mateus 4.2), sede (João 19.28), cansaço (João 4.6) e passou pela morte (Lucas 23.46). Ele foi um homem comum, mas sem pecado. Isso foi sua entrega.
Sem essa
entrega humilhante ele não poderia morrer por nós. Sem isso ele não poderia
sofrer tentação, dor e humilhação. Ele mostrou que nada o deteria na sua grande
vontade de resgatar a humanidade caída.
Pense agora em
como Cristo sofreu, como sentiu angústia sobremaneira elevada! Em nenhum outro
trecho das Escrituras notamos o Mestre cheio de angústia e pavor. Em nenhum
outro trecho ele pede ao Pai que lhe passe esse cálice. Que se houvesse outro
meio de salvar os homens, então que ele pudesse ser livre de tamanho sofrimento.
Mas não havia, e Jesus sabia disso, e deste modo, imediatamente ora para que
não seja feita a sua vontade, mas a vontade de do Pai.
A parte humana
de Jesus, por alguns instantes, queria evitar a angústia iminente e
extremamente dolorosa. Ele seria traído por Judas, negado por Pedro, humilhado
como um malfeitor perante as multidões, julgado por juízes hipócritas e
torturado cruamente, antes de morrer! E isso tudo injustamente, sem merecer. Se
Cristo não se angustiasse perante isso tudo ele não seria humano. Ele foi ao
encontro de todo esse sofrimento voluntariamente, não recusou o cálice que o
Pai lhe entregara. Sua obediência era plena e inequívoca. Jesus foi um homem,
um homem perfeito, obediente e fiel.
E isso
realmente importa. Importa demais saber que Cristo era perfeitamente igual a
nós em suas capacidades e limitações. Ele não era um humano superpoderoso, que
poderia desviar das tentações e sofrimentos humanos. Era um homem comum, com
todas as limitações que a carne humana pode apresentar. Só desta forma ele pode
compreender todas as limitações e tentações humanas. E assim pode se
compadecer, nos entender e também interceder por cada um de nós (Hebreus
4.15-16).
Jesus mostrou
que foi possível a um homem comum ( passível das mesmas limitações) viver sem
pecar, mesmo sendo tentado a isso muitas vezes. Foi por causa desta obediência
e desta submissão ao Pai que Ele criou um novo caminho para os céus, um novo
modelo de relacionamento com Deus Pai.
No modelo
antigo os homens pecadores (todos) preparavam sacrifícios e rituais para
"cobrir" o seu pecado perante os olhos do Senhor. Precisavam dos
sacrifícios pois sua conduta nunca chegava ao santíssimo padrão exigido pelo
Senhor. Agora, no novo modelo, os homens não se voltam para Deus com seus méritos,
apresentando suas obras, sua própria justiça, nem oferecem sacrifícios. O
caminho agora é por meio de Cristo o homem perfeito. Ele criou um caminho
através de seu sangue, sua pureza e santidade inigualável. Essa justiça o
tornara aceitável perante Deus e por isso que, aquele que se achega ao Pai, por
meio de Cristo, se torna igualmente aceitável. O sangue derramado na cruz
provou sua obediência, sua bondade, sua fidelidade e seu infinito amor.
É importante
lembrarmos sempre, o quanto Cristo
sofreu por nos amar, e por desejar ardentemente que a criação fosse restaurada.
Sua angústia e seu pavor demonstraram o quão alto foi o preço pago por nossa
salvação. Sem esse amor infinito de Jesus estaríamos perdidos para sempre, sem
salvação, sem vida eterna e sem esperança alguma. Jesus era plenamente Deus e
também era homem, um homem comum, um homem perfeito. E isso garantiu que ele pudesse pagar por nossos pecados e
sermos justificados perante Deus Pai.
Bendito seja o
bom Cristo por essa dádiva.
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