A Igreja brasileira não está acostumada a combater o
racismo, nem perceber o quão odioso e destrutivo esse pecado é para ela própria e para a sociedade.
Cresci dentro de um lar cristão, minha família evangélica sempre me levava à Igreja.
Lá aprendi que todo ser humano é digno, que nós, fomos
criados à imagem e semelhança de Deus, que sou especial para ELE, mas também
que isso não me faz melhor do que ninguém. Na comunidade cristã todos faziam parte do corpo de Cristo, no
qual cada um de nós tinha uma missão especial , dada pelo Senhor para cumprir
aqui na terra. Com certeza sempre fomos
estimulados a pensar na igualdade, baseados no texto bíblico de Romanos 2.11
que diz:
Mas dizer que todos somos iguais, infelizmente não é suficiente. Precisamos fazer mais. Há
algumas pessoas que saem das reuniões da Igreja achando normal fazerem piadas
racistas, pessoas que ignoram todo o sofrimento que o povo negro padece por
causa do preconceito racial que existe no mundo. E isso tudo é por que não
esclarecemos que o racismo é pecado, é abominável aos olhos de Deus e não deve
ser tolerado em nossas comunidades.
Combatemos, com muita propriedade, os vícios, as pornografias, as idolatrias, as
feitiçarias, adultérios, entre outros pecados bastante presentes na sociedade,
mas esquecemos de citar e condenar o
racismo, talvez porque o achemos de
menor gravidade. Poucos sermões evangélicos tocam neste pecado, ele é
praticamente tolerado no meio da igreja (talvez tão tolerado quanto a
glutonaria, que trataremos em outro post).
Racismo não combina com cristianismo, nosso Senhor tem um povo só, chamado Igreja, e ele é composto
por pessoas de todas as localidades do globo. Em Apocalipse 7.9 lemos:
"Depois destas coisas olhei, e eis uma grande multidão, que ninguém podia
contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, que estavam em pé diante
do trono e em presença do Cordeiro, trajando compridas vestes brancas, e com
palmas nas mãos;"
Alguns teólogos antigos, utilizavam, com extrema falta de bom senso e sabedoria, algumas passagens da Bíblia, especialmente a Maldição de Cam, como argumento para tratar o negro como ser inferior. No capítulo 9, versículos 18-27 do Gênesis diz: após beber vinho, Noé ficou nu dentro de sua tenda, dormindo. Cam, pai de Canaã, viu a nudez de seu pai e chamou os dois irmão, Sem e Jafé, que tomaram um manto e o cobriram. Ao acordar, Noé soube do acontecido e pronunciou o terrível veredicto: “maldito seja Canaã, que ele seja para seus irmãos o último dos escravos. Bendito seja Javé, o Deus de Sem, e que Canaã seja seu escravo e que Deus dilate a Jafé, e que Canaã seja seu escravo.
Entretanto, os mais notáveis teólogos
da atualidade, especialistas no Antigo Testamento, explicam que a maldição profética de Noé
sobre Canaã foi cumprida quando da conquista da região povoada pelos
descendentes de Canaã, os cananeus, por parte dos filhos de Jacó, sob o comando
de Josué há mais de três milênios. Portanto nada restando para povos atuais.
Além do que, não há
nada, nem neste texto, nem em qualquer outro trecho bíblico, que indique
qualquer maldição sobre negros e africanos, e muito menos algo que justifique a
escravidão. É inconcebível que se relacione cor de pele com alguma maldição,
nada há na Bíblia que aponte para isso.
É importante ressaltar que Deus sempre usou negros, brancos, amarelos, judeus, gentios, romanos, homens e mulheres para realizar sua poderosa obra no decorrer dos séculos. Nenhuma etnia é desprezada. Nossos irmãos negros foram reconhecidos no passado como alguns dos “Pais da igreja”, eles viviam nas comunidades cristãs antigas do Egito, da Etiópia e do norte da África, de um modo geral. Entre esses gigantes estão Orígenes, Atanásio, Cirilo, Tertuliano e o notável mestre Agostinho.
Não podemos nos
calar, é preciso que confrontemos o pecado. É o momento de não nos esquivarmos
da responsabilidade de tratarmos o
racismo dentro do meio cristão. De chamá-lo como realmente é: um pecado
que afronta a dignidade da imagem de Deus no ser humano.
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