Porque, segundo o homem interior, tenho prazer
na lei de Deus;
Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha
contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está
nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta
morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com
o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.
Romanos 7.22-25
Eis aqui um conflito que é popularmente mal entendido entre os evangélico atualmente. Esta postagem vai procurar desfazer certos
equívocos. O assunto precisa de considerações preliminares que seriam bem extensas, mas vou resumir o máximo possível. Para compreender melhor procure ler as referências.
Considerações iniciais
Explicando de maneira abreviada, o ser humano é formado de uma
parte espiritual e uma parte material ( Gênesis 2.7). A parte espiritual
não morre, no sentido de deixar de existir. Quando ocorre a morte corporal nosso Espírito tem dois destinos possíveis: ou vai para os céus, com Deus ou vai para o inferno, sem Deus (1 Coríntios
15.35-38).
Como dissemos, o corpo morre fisicamente aqui na terra, mas não deixa de existir, ele permanece morto até que
Cristo Jesus venha uma segunda vez, para o julgamento Final, quando então todos
os corpos ressuscitarão, os que estão no inferno para a perdição
eterna e os mortos em Cristo para a vida eterna nos céus.
Como pode um corpo que foi consumido pelas chamas, dilacerado por feras ou afogado no fundo do mar retornar para ressurreição? Este é um mistério que a Bíblia não nos revela.
Como pode um corpo que foi consumido pelas chamas, dilacerado por feras ou afogado no fundo do mar retornar para ressurreição? Este é um mistério que a Bíblia não nos revela.
Por fim, o destino final do
corpo é sua reunião perpétua com o espírito, seja para vida eterna ou para
o juízo eterno (1 Tessalonicenses 4.16,17).
Vamos por partes. A despeito do que alguns pensariam, Paulo não estava delirando,
não estava imaginando duas entidades possuindo a mesma pessoa. Ele também não
tinha nenhum tipo de esquizofrenia paranoide. O que ele estava descrevendo era um
conflito de naturezas. Duas naturezas. A natureza adâmica, caída e corrompida, recebida no
nascimento e a nova natureza herdada de Cristo pela graça mediante a fé.
Neste conflito não há uma parte boa,
intocada chamada de espírito e uma parte ruim, maculada chamada de carne. Essa
é uma interpretação incorreta, pois tanto a parte material quanto a espiritual foram
criadas por Deus e Ele não faz nada que não seja verdadeiramente bom. Mas com a
chegada do pecado tanto a matéria quanto o espírito passaram a sofrer os
efeitos do nocivos da desobediência. No texto bíblico, às vezes a palavra
“carne” se refere ao corpo e em outras, se refere a mundo ou pecaminosidade, depende do contexto em que a palavra está inserida. Vamos esclarecer.
Muitos pensam que o ser humano nasce com um espírito bom e inocente e uma carne má e corrupta, mas isso não é o que ocorre de fato, tanto nossa parte material como a parte espiritual (imaterial) foram corrompidas pelo pecado que habita no ser humano. Vamos entender melhor e para isso, precisamos dar uma olhada rápida na língua original , o grego.
Sarx e Somma
São duas palavras que encontramos no Novo
Testamento que geralmente são traduzidas pela palavra “carne”. As duas são SOMMA e SARX (σομμα e σαρξ).
SOMMA (σομμα) - Esta palavra se
refere ao corpo natural, ou seja, os músculos, pele, ossos e indica a
parte física e não tem nenhuma referência ao pecado em si. A ideia é
simplesmente de uma descrição biológica, pensamos no corpo como uma
descrição de elementos químicos da terra como: oxigênio, carbono,
hidrogênio, nitrogênio, cálcio, fósforo, potássio, enxofre, sódio, cloro, iodo,
ferro, cobre, zinco e outros elementos em proporções menores. No grego do Novo
Testamento, a palavra corpo neste sentido é somma.
SARX (σαρξ) - Tem também pode ter o sentido de
corpo natural ou biológico, mas não se restringe a este significado. Quando o
autor bíblico quer fazer referência á nossa natureza pecaminosa ele usa a
palavra sarx. Neste último sentido ela não se refere meramente ao corpo, mas
abrange toda nossa natureza, seja a parte material como a parte imaterial (
corpo e espírito). Isso significa que o pecado corrompeu toda estrutura da vida
humana. Porém a carne em si não é má, não foi criada para ser imperfeita mas se torna imperfeita pelo pecado que subjaz nela.
Que conflito é este que Paulo fala em Romanos 7?
Paulo está falando de um conflito de interesses
que ocorre na mente do homem que já foi remido por Jesus. O homem natural não conhece este conflito, não é inerente a sua condição. Ele está vivendo descomplicadamente com o pecado. É o velho homem.
Mas o homem nascido de novo tem uma mente nova, um novo coração que vem de Deus, ele é do céu. Paulo o chama de "homem espiritual" ou "homem interior", e este possui um conflito pertinente à sua nova condição. É o novo homem.
Esta diferenciação, entre o novo e o velho homem, é vista com frequência em outros escritos paulinos.
Mas o homem nascido de novo tem uma mente nova, um novo coração que vem de Deus, ele é do céu. Paulo o chama de "homem espiritual" ou "homem interior", e este possui um conflito pertinente à sua nova condição. É o novo homem.
Esta diferenciação, entre o novo e o velho homem, é vista com frequência em outros escritos paulinos.
Ora, o homem natural não compreende as coisas do
Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque
elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele
de
ninguém é discernido.
Paulo diferencia a esfera do humano-natural com a esfera do divino-espiritual. E é aí que reside o conflito, pois
há uma inclinação do velho homem para fazer o que é errado perante Deus, isso
lhe parece simples, uma inclinação irresistível para a desobediência. Mas por
outro lado o Espírito Santo, que mora no coração do crente, afasta o novo homem do
pecado e o aproxima de Deus. A carne é boa pois foi criada por Deus. E mais, a
carne foi criada por Deus, a carne foi assumida pelo Filho de Deus; Cristo
habitou entre nós em carne, só que sem pecado.
Paulo chama cada uma destas duas forças, de
homem natural (ou carnal) e homem interior (ou espiritual). É uma
batalha entre o velho homem, que é guiado pela sua natureza caída, e o novo
homem, cheio do Espírito Santo.
A carnalidade refere-se a todo sistema
corrupto que herdamos em Adão, toda a tendência para a malícia, impureza e
maldade. A espiritualidade refere-se ao sistema divino, um novo coração
implantado quando nascemos em Cristo, quando batizados no Espírito Santo.
Corrigindo o erro
Classificar nosso espírito humano como a parte boa e nossa
carne como parte ruim, é um problema sério. É um erro muito grande achar que o que o
corpo faz é pecado, enquanto o que o espírito faz é bom. Ora, podemos estar com
nosso corpo perfeito, sem fazer nada de ofensivo a Deus e sermos mesmo assim
condenados, ao abrigarmos impureza, inveja ou rancor em nosso coração. É a tentação da hipocrisia, que gosta de julgar segundo a aparência e não segundo a verdade.
Por outo lado, podemos também aparentar estarmos embriagados (como Ana em 1 Samuel 1.14) mas nosso coração estar cheio do Espírito Santo. Sabemos que Deus pesa os corações, nosso homem interior, e ele não quer só nosso espírito, mas todo nosso corpo, afinal , quando o Senhor diz que somos o Templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6.19,20) ele se refere ao nosso ser integralmente, parte material e imaterial
Desta forma, quando o apóstolo usa o termo carne (sarx) ele está dando nome a toda estrutura pecaminosa e anti-Deus enraizada na natureza humana, desde o mais profundo da alma. Neste sentido, a carne não é um pedaço do homem, mas sua totalidade, todo seu EU, é o homem natural. E a inclinação da carne é contra as coisas do alto (Rm 8.7-8).
É por causa disto que quem está em Cristo deve militar contra o seu próprio ser, negar-se a si mesmo e servi-Lo. O seu ser total é a própria carne, sua própria vontade caída.
Neste embate, contra a carne ( corpo e espirito humanos) , temos o auxílio do Espírito Santo e devemos crucificar a carne (Gálatas 5.24 ) com seus apetites e desejos pecaminosos e viver para Deus.
Não se pode culpar o corpo e inocentar o espírito, ambos precisam da graça de Deus para serem redimidos e salvos.
Não se pode culpar o corpo e inocentar o espírito, ambos precisam da graça de Deus para serem redimidos e salvos.
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