Pular para o conteúdo principal

Manuscritos do Novo Testamento - sua confiabilidade


Manuscrito antigo



Entrevista feita ao Doutor Bruce M. Metzger e reproduzida aqui , sobre a confiabilidade do texto bíblico do NT.
Mtezger é Professor de Língua e Literatura do Novo Testamento no Princeton Theological Seminary, uma das maiores autoridades no mundo inteiro na língua Grega  e em Manuscritologia do Novo testamento.

Doutor Bruce Metzger



 Como podemos ter certeza de que as biografias de Jesus chegaram até nós bem preservadas? — Para ser sincero com o senhor — eu disse a Metzger —, quando soube  que  não  havia  nenhum exemplar  original  do  Novo Testamento, fiquei muito cético. Se tudo que temos são cópias de cópias, pensei, como ter  certeza  de  que  o  Novo Testamento  que  temos  hoje  é,  no  mínimo, semelhante aos escritos originais? Como o senhor responderia a isso?


— Não é só a Bíblia que está nessa situação, outros documentos antigos  que  chegaram até  nós  também  estão  — replicou  ele.  — A vantagem do Novo Testamento,  principalmente  quando comparado com outros escritos antigos, é que muitas cópias sobreviveram.
— Qual a importância disso? — perguntei.
— Bem, quanto maior o número de cópias em harmonia umas com as outras, sobretudo se provêm de áreas geográficas diferentes, tanto maior a possibilidade de confrontá-las, o que nos permite visualizar como seriam os documentos originais. A única forma possível de harmonizá-los seria pela  ascendência  de  todos  eles  à  mesma  árvore  genealógica  que representaria a descendência dos manuscritos.
— Muito bem — eu disse —, compreendi por que é importante que existam várias  cópias.  Mas e quanto à  idade dos documentos?  Não há dúvida de que isso também é importante, não é verdade?
— Exatamente  — respondeu  Metzger  —, mas  esse  elemento  é outro dado que favorece o Novo Testamento. Temos cópias que datam de algumas gerações posteriores ao escrito  dos originais, ao passo que, no caso de outros textos antigos, talvez cinco, oito ou dez séculos tenham se passado entre o original e as cópias mais antigas que sobreviveram. Além dos  manuscritos  gregos, temos também a tradução dos  evangelhos para outras línguas numa época relativamente antiga: para o latim, o siríaco e o copta. Além disso, temos o que podemos chamar de traduções secundárias feitas  pouco depois, como a armênia e a gótica.  Há várias outras além dessas: a georgiana, a etíope e uma grande variedade.
— De que forma isso nos ajuda?
—Mesmo que não tivéssemos nenhum manuscrito grego hoje, se juntássemos as informações fornecidas por essas traduções que remontam a um período muito antigo, seria possível reproduzir o conteúdo do Novo Testamento.  Além disso, mesmo que perdêssemos todos os manuscritos gregos  e  as  traduções  mais  antigas,  ainda  seria  possível  reproduzir  o conteúdo do Novo Testamento com base na multiplicidade de citações e comentários, sermões, cartas etc. dos antigos pais da igreja.
— Quando  o  senhor  fala  da  multiplicidade  de  manuscritos  — prossegui  —,  de  que  modo  isso  contrasta  com outros  livros  antigos normalmente reputados pelos eruditos por confiáveis? Por exemplo, faleme de escritos de autores da época de Jesus.
— Veja  o caso de Tácito,  o historiador romano que escreveu os Anais  por volta de 116 d.C. — começou. — Seus primeiros seis  livros existem hoje em apenas um manuscrito, copiado mais ou menos em 850 d.C. Os livros 11 a 16 estão em outro manuscrito do século xi. Os livros 7 a 10 estão perdidos. Portanto, há um intervalo muito longo entre o tempo em que  Tácito  colheu  suas  informações  e  as  escreveu  e  as  únicas  cópias existentes.  Com relação  a  Josefo,  historiador  do  século  I,  temos  nove manuscritos gregos de sua obra Guerra dos judeus, todos eles cópias feitas  nos  séculos X a XII.  Existe uma tradução latina do século IV e textos russos dos séculos XI ou XII.
São  números impressionantes,  sem dúvida.  Existe  apenas  uma seqüência  muito  tênue  de  manuscritos  ligando  essas  obras  antigas  ao mundo moderno. — Só para comparar — perguntei —, quantos manuscritos do Novo Testamento grego existem ainda hoje?
Metzger arregalou os olhos.
— Há  mais  de  5  mil  catalogados  — disse  ele  entusiasmado, erguendo a voz em uma oitava.
— Isso  é  incomum no  mundo  antigo?  Qual  seria  o  segundo colocado? — perguntei.
—  O  volume  de  material  do  Novo  Testamento  é  quase constrangedor em relação a outras obras da Antigüidade — disse ele. — O que mais se aproxima é a Ilíada de Homero, que era a bíblia dos antigos gregos.  Há menos  de 650 manuscritos  hoje  em dia.  Alguns  são  muito fragmentários. Eles chegaram a nós a partir dos séculos 11 e m d.C. Se levarmos em conta que Homero redigiu seu épico em aproximadamente
800 a.C, veremos que o intervalo é bastante longo.
“Bastante longo” era eufemismo; estávamos falando em mil anos! De fato,  não  havia  comparação:  a  existência  de  manuscritos  do  Novo Testamento constituía uma prova surpreendente quando justaposta a outros escritos respeitados da Antigüidade — obras que os estudiosos modernos não relutam de forma alguma em considerar autênticas.
Minha  curiosidade  em  relação  aos  manuscritos  do  Novo Testamento fora despertada. Pedi a Metzger que me descrevesse alguns deles.
— Os mais antigos são fragmentos de papiros, que era um tipo de material para escrita feito da planta do papiro que crescia às margens do delta  do  Nilo,  no  Egito  — disse  Metzger.  — Existem atualmente  99 fragmentos  de papiros com uma ou mais  passagens ou livros  do Novo Testamento.  Os mais  importantes já  descobertos são os papiros Chester Beatty, achados por volta de 1930. Destes, o número 1 apresenta partes dos quatro evangelhos e do livro de Atos, datando do século III d.C. O papiro número 2 contém grandes porções de oito cartas de Paulo além de trechos de  Hebreus,  e  a  data  gira  em torno  de  200  d.C.  O papiro  número  3 compreende uma seção enorme do livro de Apocalipse, com data do século III  d.C.  Um outro  grupo  de  manuscritos  de  papiros  importantes  foi comprado por um bibliófilo suíço, Martin Bodmer. O mais antigo deles, de aproximadamente 200 d.C, contém cerca de dois terços do evangelho de João. Um outro papiro, com partes dos evangelhos de Lucas e João, é do século III d.C.
A essa altura, o intervalo entre a escrita das biografias de Jesus e os manuscritos mais antigos revelava-se extremamente pequeno. Mas qual é o manuscrito  mais  antigo?  Será  que  é  possível  chegar  aos  manuscritos originais, que os especialistas chamam de “autógrafos”?

— De todo o Novo Testamento — eu disse —, qual é a parte mais antiga que temos hoje?

— Um fragmento do evangelho de João com parte do capítulo 18. Tem cinco versículos, três de um lado, dois de outro e mede cerca de 6,5 por nove centímetros — disse Metzger.
— Como foi descoberto?
— Foi  comprado  no  Egito  em 1920,  mas  passou  despercebido durante anos em meio a outros fragmentos de papiros semelhantes. Em 1934, porém, C. H. Roberts, do Saint Johris College, de Oxford, trabalhava na classificação de papiros na Biblioteca John Rylands, em Manchester, na Inglaterra, quando percebeu imediatamente que havia deparado com um papiro em que se achava preservado um trecho do evangelho de João. Pelo estilo da escrita, ele foi capaz de datá-lo.
— E a que conclusão ele chegou? — perguntei. — É muito antigo?
— Ele concluiu que o manuscrito era de cerca de 100 a 150 d.C. Muitos outros paleógrafos famosos, como sir Frederic Kenyon, sir Harold Bell,  Adolf  Deissmann,  W.  H.  P.  Hatch,  Ulrich  Wilcken  e  outros, concordam com sua  avaliação.  Deissmann estava  convencido  de que o manuscrito remontava pelo menos ao reinado do imperador Adriano, nos anos 117 a 138 d.C, ou até mesmo ao do imperador Trajano, entre os anos
98 e 117 d.C.
Era uma descoberta formidável, porque os teólogos alemães céticos do século passado haviam postulado enfaticamente que o quarto evangelho não fora redigido pelo menos até o ano 160 — numa época já bem distante dos  eventos  do tempo de  Jesus  para  que  pudesse  ter  alguma  utilidade  histórica. Com isso, influenciaram gerações de estudiosos, que zombavam da confiabilidade desse evangelho.
— Isso sem dúvida põe fim à essa teoria — comentei.
— Realmente  — disse  Metzger.  — Temos  aqui  um fragmento muito antigo do evangelho de João proveniente de uma comunidade das margens do rio Nilo, no Egito, muito distante de Éfeso, na Ásia Menor, onde o evangelho provavelmente foi escrito.
Essa  descoberta  fez  com  que  as  pontos  de  vista  populares  da história  fossem revistos,  colocando  o  evangelho  de  João  muito  mais próximo dos dias  em que Jesus  caminhou pela terra.  Tomei  nota disso mentalmente  para  perguntar  depois  a  um arqueólogo  se  havia  outras descobertas que pudessem respaldar nossa confiança no quarto evangelho.

Embora  os  manuscritos  de  papiros  constituam as  cópias  mais antigas do Novo Testamento, existem também cópias antigas escritas em pergaminhos, feitos de pele de gado, ovelhas, cabras e antílopes.
— Temos os chamados manuscritos unciais, escritos inteiramente em letras  gregas  maiúsculas  — Metzger  explicou.  — Temos hoje  306 exemplares, muitos dos quais remontam ao início do século III. Os mais importantes são o Códice sinaítico, que é o único com o Novo Testamento completo  em letras  unciais,  e  o  Códice  Vaticano,  bastante  incompleto. Ambos são de cerca de 350 d.C. Um novo estilo de escritura, de natureza mais cursiva, emergiu por volta de 800 d.C. É chamado de minúscula, e há cerca de 2 856 manuscritos  desse tipo.  Há também os lecionários,  que contêm as Escrituras do Novo Testamento na seqüência de leitura prescrita pela igreja primitiva em determinadas épocas do ano. Um total de 2 403 desses  manuscritos  já  foram catalogados.  Com isso,  o  total  geral  de manuscritos gregos chega a 5 664.
De acordo  com Metzger,  além dos  documentos  gregos  existem milhares de outros  manuscritos  antigos  do Novo Testamento em outras línguas. Existem entre 8 e 10 mil manuscritos da Vulgata latina, mais um total de 8 mil em etíope, eslavo antigo e armênio. No total, há cerca de 24 mil manuscritos.
— Qual a sua opinião diante  disso?  — perguntei-lhe,  buscando confirmar claramente  o que julgava  ter  ouvido.  — No que se refere  à multiplicidade de manuscritos e ao intervalo de tempo entre os originais e  nossos primeiros exemplares, qual a situação do Novo Testamento perante outras obras bem conhecidas da Antigüidade?
— Muito boa — respondeu ele. — Podemos confiar imensamente na  fidelidade  do  material  que  chegou  até  nós,  principalmente  se  o compararmos a qualquer outra obra literária antiga.
Essa conclusão é compartilhada por estudiosos eminentes de todo o mundo. De acordo com o falecido F. F. Bruce, autor de Merece confiança o Novo Testamento?, “no mundo não há qualquer corpo de literatura antiga que, à semelhança do Novo Testamento, desfrute uma tão grande riqueza de confirmação textual”. 16
Metzger já mencionara o nome de sir  Frederic Kenyon, ex-diretor do  Museu  Britânico  e  autor  de  The  paleography  of  Greek  papyrí  [A paleografia  dos  papiros  gregos].  Segundo  Kenyon,  “em nenhum outro caso  o  intervalo  de  tempo entre  a  composição  do  livro  e  a  data  dos manuscritos  mais  antigos  são  tão  próximos  como  no  caso  do  Novo Testamento”. 
Sua conclusão: “Não resta agora mais nenhuma dúvida de que as Escrituras  chegaram até  nós  praticamente  com o mesmo conteúdo  dos escritos originais”. 

Mas, e as discrepâncias entre os vários manuscritos? No tempo em que não havia ainda as velozes máquinas fotocopia-doras, os manuscritos eram laboriosamente copiados à mão por escribas, letra por letra, palavra por palavra, linha por linha, num processo muito propício a erros. Queria muito  saber  agora  se  esses  erros  dos  copistas  tinham  introduzido imprecisões irremediáveis nas Bíblias de hoje.



— Dada a semelhança de escrita das letras gregas — eu disse — e as condições primitivas nas quais trabalhavam os escribas, era grande a possibilidade de que eles introduzissem erros nos textos.

— Exato — concordou Metzger.
— Então  é  provável  que  existam  milhares  de  variações  nos manuscritos antigos que possuímos, não é mesmo?
— Exato.
— Isso  significa  então  que  não  podemos  confiar  neles?  — perguntei num tom mais de acusação que de interrogação.
— Não, senhor,  não significa que não podemos confiar neles — respondeu Metzger categoricamente. — Em primeiro lugar,  os óculos só foram inventados em 1373, em Veneza. Tenho certeza de que muitos dos antigos  escribas  sofriam  de  astigmatismo.  Acrescente-se  a  isso  a dificuldade que era, independentemente das circunstâncias, ler manuscritos já  apagados,  cuja  tinta  havia  perdido  a  nitidez.  Havia  também outros
perigos — falta de atenção da parte dos escribas, por exemplo. Portanto, embora  a  maior  parte  dos  escribas  fosse  escrupulosamente  cuidadosa, alguns erros acabavam passando.
Mas— Metzger estava pronto a acrescentar — há outros fatos que compensam isso. Por exemplo, às vezes a memória do escriba pregava-lhe peças. Entre olhar o que tinha de copiar e, em seguida, escrever o que lera, ele podia acabar mudando a ordem das palavras. Ele escrevia exatamente as palavras que lera, porém na seqüência errada. Isso não deve ser motivo para se alarme,  já  que o grego, ao contrário de outras línguas,  como o inglês ou o português, é uma língua que admite flexões.
— Isso quer dizer que… — interrompi.
— Que faz uma enorme diferença em português se você disser: “O cachorro morde o homem” ou: “O homem morde o cachorro”. A ordem das palavras é importante em português, mas não no grego. Uma palavra pode funcionar  como  sujeito  da  oração  independentemente  de  onde  esteja colocada. Conseqüentemente, o significado da oração não fica truncado se as  palavras  não  estiverem na  ordem que  consideramos  correta.  Existe, portanto, uma certa variação entre um manuscrito e outro, mas, em geral, são variações de somenos importância. As diferenças de grafia seriam um
outro exemplo.
Mesmo assim, o número de “variações” ou de “diferenças” entre os manuscritos  era  preocupante.  Eu já  tinha  visto  algumas  estimativas  da ordem  de  200  mil  variações. Metzger,  contudo,  não  deu  muita importância a essa quantidade.
— O número  parece  grande,  mas  engana um pouco pelo modo como as variações são computadas — disse ele, explicando que, se uma  única  palavra  for  escrita  incorretamente  em  2  mil  manuscritos, contabilizam-se 2 mil variações.
Concentrei-me na questão mais importante. — Quantas  doutrinas  da  igreja  estão  em  risco  por  causa  das variações?
— Não sei de nenhuma doutrina que esteja em risco — respondeu ele com convicção.
— Nenhuma?
— Nenhuma — ele repetiu. — Os testemunhas-de-jeová batem à sua porta e lhe dizem: “Sua Bíblia está errada em 1 João 5.7,8, onde se lê: ‘o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um’ (NVI, nota de rodapé). Eles dirão que não é assim que esse texto aparece nos manuscritos mais antigos. E é verdade mesmo.  Acho que essas  palavras só aparecem em cerca de sete ou oito cópias, todas dos séculos XV ou XVI. Admito que
esse texto não faz parte do que o autor de 1 João foi inspirado a escrever. Isso,  porém,  não  invalida  o  testemunho  sólido  da  Bíblia  acerca  da Trindade. No batismo de Jesus, o Pai fala, seu Filho amado é batizado e o Espírito Santo desce sobre ele. No final de 2 Coríntios, Paulo diz: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos  vocês”.  A Trindade  aparece  representada  em muitos
lugares.
— Então as variações, sempre que ocorrem,  normalmente são de importância secundária, e não primordial?
— Sim,  sim,  é  isso  mesmo.  Os  estudiosos  trabalham  muito cuidadosamente  para tentar  solucioná-las,  devolvendo-lhes o significado original. As variações mais significativas não solapam nenhuma doutrina da igreja.  Qualquer Bíblia que se preza vem com notas que indicam as variações de texto mais importantes. Mas, como eu já disse, esses casos são raros.
São tão raros que estudiosos como Norman Geisler e William Nix chegaram à seguinte conclusão: “… o Novo Testamento não só sobreviveu em um número maior  de manuscrito,  mais  que qualquer outro livro  da Antigüidade, mas sobreviveu em forma muito mais pura (99,5% de pureza) que qualquer outra obra grandiosa, sagrada ou não”.


Fonte
Transcrição do site   arazaodaesperanca.wordpress.com

Comentários

Blog do Vitor pelo mundo- agora

Total de visualizações

Seguidores