As primeiras heresias enfrentadas pela Igreja vieram dos judeus
convertidos, problema já enfrentado por Paulo na igreja da Galácia.
Vamos a uma lista rápida das principais Heresias na Igreja
Primitiva, logo após uma breve definição:
Docetismo – Marcionismo – Donatismo – Gnosticismo –
Arianismo – Maniqueísmo – Montanismo –– Nestorianismo – Pelagianismo – Ebionitas
Não reconheciam o apostolado de Paulo e exigiam que os cristãos
gentios se submetessem ao rito da circuncisão. No desejo de manterem o
monoteísmo do Antigo Testamento, os ebionitas negavam a divindade de Cristo e
seu nascimento virginal, afirmando que Ele só se distinguia dos outros homens
por sua estrita observância da lei, tendo sido escolhido como Messias por causa
de sua piedade legal.
Os ebionitas eram considerados apóstatas pelos judeus
não-cristãos, e também não contavam com a simpatia dos cristãos-gentios, os
quais depois do ano 70 constituíam a maior parte da Igreja.
Nenhum concílio condenou oficialmente o ebionismo, mas Tertuliano,
Irineu, Eusébio e Orígenes foram opositores de grande peso a essa heresia. Os
ebionitas diminuíram gradualmente, no segundo século.
Do
grego gnostikos – “aquele que conhece” – Religião extremamente sincrética. Para
os gnósticos o mundo material fora criado por um deus mau, chamado Demiurgo.
Consequentemente não poderiam admitir que Jesus tivesse um corpo físico, já que
seria incompatível uma divindade habitar um corpo feito de matéria. Eles também
enfatizavam que o corpo é a prisão da alma, sendo toda a matéria criada
essencialmente má.
É uma
concepção religiosa muito antiga, de antes de Cristo, que veio do Oriente,
provavelmente da Pérsia, e que se infiltrou na Igreja gerando uma terrível
heresia que foi severamente combatida já pelos Apóstolos Paulo, Pedro e João em
suas cartas, e também por Irineu (130-200).
O
gnosticismo acredita que há como que dois deuses; um deus bom e outro mau; e o
mundo teria sido criado pelo deus mau, o demiurgo; este seria o nosso Deus da
Bíblia, dai todas as tragédias contadas nela. Para esta crença, as almas dos
homens já existiam em um universo de luz e paz (Plenoma); mas houve uma
“tragédia” – algo como uma revolta – e assim esses espíritos foram castigados sendo aprisionados
em corpos humanos, como em uma cadeia, pelo deus demiurgo, e que os impede de
voltar ao estado inicial. A salvação
dessas almas só seria possível mediante
a libertação dessa cadeia que é o corpo, que é mau, e isto só seria possível
através de um conhecimento (gnose em grego) secreto, junto com práticas mágicas
(esotéricas) sobre Deus e a vida, revelados aos “iniciados”, e que dariam
condições a eles de se salvarem. Por isso os gnósticos não acreditam na
salvação por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo; não acreditam no
pecado, nos anjos, nos demônios, e nem no pecado original. Para eles o mal vem
da matéria e do corpo humano, que são maus. A Igreja muitas vezes teve que se
pronunciar contra isto e muitas vezes relembrou que “tudo o que Deus fez é
bom”.
Para o
gnosticismo tudo que é material foi criado pelo deus mal e deve ser desprezado;
assim, por exemplo, o casamento e tido como mau porque através dele o homem
(corpo) se multiplica. São Paulo combateu isto em 1Tm 4, 1ss. Tudo o que é
espiritual teria sido criado pelo deus bom.
Segundo
ainda o gnosticismo “cristão”, o Deus bom , Supremo, teria enviado ao mundo o
seu mensageiro, Jesus Cristo, como redentor (um eon), um “Avatar”,
portador da “gnosis”, a
palavra revelada a alguns escolhidos e que leva à salvação
(libertação do corpo).
Montanismo
Apareceu na Frígia (Ásia Menor), de 150 a 157, movimento
intelectualista, organizou-se em comunidades; na Ásia Menor, em Roma e na
África do Norte, fundador Montano (sacerdote de Cibele), converteu-se ao
cristianismo, julgava-se o instrumento do Espírito Santo prometido por Cristo e
precursor de uma nova era, Prisca e Maximila suas profetizas. Chamavam a si
mesmos de pneumáticos (inspirados pelo sopro do Espírito).
Esta seita, anti-romana, se constituía numa ameaça para a
paz entre a cristandade e o estado, foi excomungada pela Igreja, mas subsistiu
no Oriente até o século VIII.
O Maniqueísmo
Tipo de gnosticismo que começou na Pérsia, na 1ª metade do século
III, fundador; Manés (Manion Maniqueu – 215/276), da Babilônia, morreu esfolado
porque não curou um filho do rei Behram.
Para Manés, que seguia os ensinos de Zoroastro (Zaratustra), há
dois reinos eternos : o da luz, em que domina Deus (Ormuzde ou Ahura Mazda), e
o das trevas, domínio de Satã (Ahrimã ou Anrô Mainiu). O homem preso por Satã,
luta para se libertar das trevas e ir para a luz, liberdade que se alcança por
meio de uma vida austera, compreendendo três selos, (mortificações) : o selo da
boca (jejum), o selo da mão (abstenção do trabalho) e o selo do ventre
(castidade).
Existia duas classes : os eleitos (monges) e os ouvintes ou
auditores (fiéis); com uma hierarquia de doutores, administradores,
presbíteros, diáconos e missionários, rejeitaram o A.T. e expurgaram do N.T. as
interpolações judaicas, para adaptar a Escritura aos fins de sua seita.
Santo Agostinho, foi conquistado por essa seita, um famoso
discípulo de Manés foi Madek (século VI d.C.), que acreditava que o mal do
mundo tinha sua causa no desejo de posse da fortuna e das mulheres.
Combatida pela Igreja e pelo estado, estendeu-se da África do
Norte à China, até a idade média (século XII), surgindo então como doutrina
albigense (catarismo).
O Pelagianismo
Em reação aos gnósticos e maniqueus, surge o pelagianismo que se
tornou uma grave heresia, divulgador Pelágio nasceu em 354 na Inglaterra,
moralista e intransigente, dizia que não se precisava da graça para salvação,
bastando somente a vontade individual, não existia o pecado original, era
contra o batismo, contra a remissão dos pecados, acreditava que se não há
pecado original, não há necessidade de redenção, logo Jesus Cristo é inútil.
Santo Agostinho, dizia : todos os homens pecaram em Adão, nascem
com o pecado original e estão enfraquecidos por ele, mas conservam o
livre-arbítrio, portanto é necessário o batismo para reaver a graça.
Concílio de Cartago, em 411, condenou o pelagianismo, no Oriente
foi declarado ortodoxo, nos concílios de Jerusalém e de Diospolis em 415. Em
431, no Concílio Ecumênico de Éfeso, foi condenado.
As questões do pelagianismo são graves do ponto de vista
teológico, dando origem a grandes controvérsias que talvez nunca tenham fim.
Docetismo
O docetismo tem grande ligação com o gnosticismo, para quem o
mundo material era mau e corrompido. O nome vem do gregodokeo e significa
“parecer”. Os docetistas defendiam que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão e
sua crucificação teria sido apenas aparente.
Para os adeptos dessa heresia, a matéria é ruim e que o espírito
não se envolveria com a matéria, que é o princípio do pecado, por isso Cristo
parecia estar numa matéria carnal, mas na verdade não estava, era ilusório.
Na concepção desse movimento herético, sendo Cristo bom e a
matéria essencialmente má, não haveria possibilidade de união entre Ele e um
corpo terreno. Portanto os docetistas negavam a humanidade de Cristo, dizendo
que Ele parecia ser humano, mas era divino. Afirmavam que o corpo de Jesus não
passava de um fantasma, que sofrimento e morte eram apenas meras aparências. Se
sofria, então não podia ser Deus; ou era verdadeiramente Deus e então não podia
sofrer. Jesus não teria tido um corpo de verdade, mas
apenas um corpo aparente (docetismo); doceta em grego quer dizer aparente.
Jesus teria então um corpo ilusório que não teria sido crucificado. S. João
combateu isto em suas cartas (cf.1 Jo 18,-23)
Não houve uma condenação oficial a esse pensamento, mas Irineu e
Hipólito foram os opositores dessa idéia filosófica grega e pagã da época.
Arianismo
Os arianos foram seguidores de um presbítero de nome Ário. Ele
afirmava que o Verbo (Jesus Cristo) não era igual ao Pai, mas uma grande
criatura. Segundo Ário, Cristo é o primeiro dos seres criados através de quem
todas as outras coisas foram feitas. Em antecipação à glória que haveria de ter
no final, Ele é chamado de Logos, o Filho unigênito de Deus. Dizia Ário que
Jesus podia ser chamado de Deus, apesar de não ser Deus na realidade plena
subentendida pelo termo.
Marcionismo
é o nome dado a uma filosofia religiosa desenvolvida por Marcion (Marcião) de
Sinope (110-160). Apesar de ser filho de um bispo (a igreja cristã não havia
ainda estabelecido o celibato de sacerdotes) desta região do Ponto (atual
Turquia), Marcion passou a adotar uma crença bastante diversa da ortodoxia
cristã, o que o levou a ser excomungado em 144.
Sua
teologia era baseada em uma visão dualista, que fazia uma distinção entre Jeová
(Yaveh), deus cultuado pelos hebreus, que seria um ente mau, vingativo,
simpático à guerra, inconstante, autor do mal, e que ficava acima de outros
dois planos, um onde habitavam os anjos e outro onde fica a matéria. Do outro
lado, estaria o deus revelado por Jesus, bom e verdadeiro, que estaria em um
plano superior ao de Jeová. Acreditava ainda que a matéria era má, e que Cristo
foi enviado para abolir a Lei e os profetas, bem como todas as obras do
perverso criador. Cristo, ao se manifestar no mundo terreno, da matéria, teria
se revestido de uma corporeidade apenas aparente, pois se assumisse a matéria
ficaria sob o poder do criador maligno e não alcançaria seu objetivo.
Tais
conceitos acabaram por angariar a Marcion a antipatia de muitos cristãos, que
consideravam sua doutrina como herege. Como cânone de sua fé, adotou apenas o
Evangelho de Lucas, ainda assim com vários cortes, e dez cartas do apóstolo são
Paulo.
Para
Marcion, aliás, são Paulo era o único entre os apóstolos que compreendeu a
verdadeira mensagem de Jesus, estando os outros impregnados por demais da
cultura judaica para compreendê-la. Além disso, considerava que todas as
citações do Antigo Testamento encontradas em Lucas e nas cartas paulinas teriam
sido inseridas por terceiros, interessados em deturpar a mensagem de Cristo.
Por fim, sua filosofia desprezava a criação, a encarnação e a ressurreição
final.
Para
dar suporte ao seu pensamento, Marcion inclusive organizou uma igreja
independente, com seus próprios bispos, rivalizando com o grupo cristão. O
marcionismo foi assim considerado, em meio às várias seitas gnósticas que
surgiam, com interpretações heterodoxas, o primeiro sério desafio à expansão do
cristianismo.
Comentários