Uma preocupação de pessoas que resistem à idéia de que a Bíblia
precisa ser interpretada é a de que o processo de interpretação da Bíblia
poderia dar margem a idéias humanas. Há motivos para esta preocupação. Quem
conhece um pouco da história sabe que várias vezes a Palavra de Deus foi
manipulada para apoiar as mais diversas vontades humanas. Desde as cruzadas da
época medieval, passando pelas interpretações equivocadas daqueles que apoiavam
a escravidão baseando-se em textos bíblicos, e chegando até os dias de hoje,
com seitas que enganam e acabam até levando à morte seus fiéis, temos razão em
nos preocupar com a deturpação da Palavra de Deus.
Nos tempos modernos em que a ciência está bem avançada, os céticos multiplicam às criticas à inerrância da Bíblia.A
Igreja portanto precisa estar bem fundamentada para saber se posicionar e
defender a sua fonte de fé.
No século passado destacam-se duas conferências eclesiásticas que
reafirmaram a posição central das Sagradas Escrituras no Cristianismo. Foram
elas:
A Declaração de Lausanne : Ela
não é tão firme quanto necessário ao afirmar que a Bíblia é inerrante em
tudo quanto ensina. (Isto é: pode haver coisas que não foram “afirmadas” na
Bíblia.).Muitos acusam a declaração de fraqueza doutrinária. De fato, notamos
que falta certa ênfase a respeito da inerrância mas nada que possa chegar ao
ponto de se considerar fraqueza doutrinária como acusam certos teólogos.
A Declaração de Chicago afirmou: “A
Escritura na sua inteireza é inerrante, e está livre de toda a falsidade,
fraude ou logro, Negamos que a infalibilidade e inerrância da Bíblia limitam-se
aos temas espirituais, religiosos ou redentores, excluindo-se as asseverações
nos campos da história e das ciências”.
Agostinho: “Creio com toda a firmeza que os autores sagrados estavam totalmente
isentos de erros”.
Martinho Lutero: “As Escrituras nunca erram”…. onde as Sagradas
Escrituras estabelecem algo que deve ser crido, ali não devemos desviar-nos de
suas palavras”.
João Calvino: “O registro seguro e infalível”. “A regra certa e inerrante”. “A
Palavra infalível de Deus”. “Isenta de toda mancha ou defeito”.
Isaac Newton: "Há mais indícios seguros de autenticidade na Bíblia do que em qualquer história profana."
Isaac Newton: "Há mais indícios seguros de autenticidade na Bíblia do que em qualquer história profana."
Uma importante doutrina defendida no protestantismo é a inerrância
Vamos saber um pouco mais sobre inerrância?
Inerrância
O sentido básico desse conceito
não foi inventado pelo escolasticismo protestante pós Reforma e nem pelos
fundamentalistas históricos do início do séc. XX em reação ao liberalismo
teológico, como alguns crítico sugerem. O termo “inerrante” só apareceu na
Igreja a partir dessa última controvérsia. Contudo, para mim, é evidente que o
conceito está presente na fé da Igreja desde o seu início.
Bíblia é inerrante, mas isso não nega
que erros de copistas se introduziram no
longo processo de transmissão da mesma. A inerrância é um atributo somente dos
autógrafos, ou seja, do texto como originalmente produzido pelos autores
inspirados por Deus. Muito embora hoje não tenhamos mais os autógrafos, pela
providência divina podemos recuperar seu conteúdo, preservado nas cópias, quase
que totalmente, através da ajuda de ferramentas como a baixa crítica ou a
manuscritologia bíblica. A ausência dos autógrafos não torna a inerrância
bíblica irrelevante, como dizem alguns.
Não ignoro estudos recentes na
área de linguagem que apontam para os ruídos inerentes na comunicação, como o
desconstrucionismo. Tais dificuldades, contudo, não impedem que o Deus que nos
fez à sua imagem e semelhança, e que criou a linguagem, a use como meio claro
de sua revelação inerrante, a ponto de nem a cultura e nem a pecaminosidade
humana distorcerem o que ele quis de fato nos dizer.
Os autores bíblicos não receberam conhecimento pleno e onisciente
acerca do mundo, quando escreveram. Eles se expressaram nos termos e dentro do
conhecimento disponível em sua época. Assim, eles descrevem que o sol nasce num
lado do céu e se põe no outro, ou ainda mencionam que o sol parou no céu
(Josué). No livro de Levítico se diz que a lebre rumina e que o morcego é uma
ave. Sabemos que pelas convenções técnicas atuais lebres não ruminam e morcegos
não são aves. Os autores bíblicos, entretanto, estavam se expressando em
linguagem coloquial, fenomenológica, como observadores. E do ponto de vista do
observador, o sol de fato se move no céu. E na Antigüidade, todos os animais
que mexiam com a boca após comer pareciam ruminantes e tudo que tinha asas e
voava era ave!
Inerrância significa que a
verdade é transmitida em palavras que, entendidas no sentido em que foram
empregadas, entendidas no sentido que realmente se destinavam a ter, não
expressam erro algum.
A inspiração garante a inerrância
da Bíblia. Inerrância não significa que os escritores não tinham faltas na
vida, mas que foram preservados de erros os seus ensinos. Eles podem ter tido
concepções errôneas acerca de muitas coisas, mas não as ensinaram; por exemplo,
quanto à terra, às estrelas, às leis naturais, à geografia, à vida política e
social etc.
Também não significa que não se
possa interpretar erroneamente o texto ou que ele não possa ser mal
compreendido.
A inerrância não nega a
flexibilidade da linguagem como veículo de comunicação. É muitas vezes difícil
transmitir com exatidão um pensamento por causa desta flexibilidade de
linguagem ou por causa de possível variação no sentido das palavras.
Outro exemplo utilizado para
contrariar a inerrância da Bíblia, encontra-se em ICo.10:8 onde lemos que
23.000 homens morreram no deserto, enquanto que Nm.25:9 diz que morreram
24.000. Acontece que em Números nós temos o número total dos mortos, ao passo
que em I aos Coríntios nós temos o número parcial que somado ao restante dos
homens relacionados nos versículos 9 e 10, deverá contabilizar o total de
24.000.
A inerrância não abrange as
cópias dos manuscritos, mas atinge somente os autógrafos, isto é, os originais.
Compilei os mais prováveis erros que
podem ser encontrados nos manuscritos:
A) Erros Involuntários: Cometidos
pelos escribas do N.T. devido a sua falta ou defeito de visão, defeitos de
audição ou falhas mentais.
1) Falhas de Visão: Em Rm.6:5
muitos manuscritos (MSS) tem ama (juntos), mas há alguns que trazem alla
(porém). Os dois lambdas juntos deram ao copista a idéia de um mi.
A harmonia dos Evangelhos
continua sendo em parte um desafio para autores comprometidos com a inerrância
bíblica, pois nem sempre se consegue achar uma explicação plena (ainda) para
alguns dos problemas levantados pelas aparentes discrepâncias entre os
Evangelhos e entre Crônicas e Reis. Não se pode aceitar soluções que impliquem numa diminuição
da autoridade das Escrituras, sugerindo contradições ou erros. Precisamos
aguardar até que mais informações nos ajudem a achar soluções compatíveis com a
natureza da Escritura e sua divina origem.
Ao afirmar a inerrância da Bíblia
não estou ignorando que, com freqüência, as teorias científicas sobre a
história da terra têm sido usadas para desacreditar o relato bíblico da
criação, do dilúvio e sua cosmovisão geocêntrica. Entendo, contudo, que não é
correto avaliar a veracidade da Bíblia mediante padrões de verdade que são
distintos do seu propósito e que se baseiam em conclusões provisórias, efêmeras
e freqüentemente desmentidas a posteriori por outros estudiosos e cientistas. A
Bíblia não é um livro científico, nos padrões modernos, e frequentemente se
refere aos fenômenos naturais usando a linguagem descritiva do observador, como
já mencionei, a qual não é cientificamente analítica.
Ocorre em algumas ocasiões na Bíblia o que estudiosos modernos chamariam
de erros de gramática com base no que se conhece hoje do grego, hebraico e
aramaico. Autores bíblicos citam outras partes da Bíblia de maneira livre, que
eles usam números arredondados e que relatam os mesmos eventos de diferentes perspectivas,
como no caso dos Evangelhos. Essas coisas, todavia, em nada prejudicam a
inerrância da Bíblia. Ela permanece plenamente confiável em tudo que afirma,
uma vez que a tomemos em seus próprios termos, sem impor-lhe a camisa de força
da visão de mundo moderna, moldada por pressupostos secularizados e
anticristãos.
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