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AGOSTINHO DE HIPONA - a Riqueza de uma mente brilhante


O Protestantismo e o Catolicismo Romano tributam honra à contribuição que Agostinho deu à causa do cristianismo. Porém o que poucos sabem é que, além de sua marcante atuação na Teologia,  o Bisbo de Hipona deixou marcas profundas na Filosofia,  Psicologia e na Pedagogia . Agostinho foi um poderoso teólogo, filósofo, retórico  e educador. Há quem diga que ele foi também um precursor da ciência da psicologia.
Vamos  conhecer um pouco das   contribuição  deste pensador para as diversas áreas do conhecimento humano.

Mas antes, uma breve biografia.



Biografia

 Agostinho nasceu em 354, na casa de um oficial romano na cidade de Tagasta, ao norte da África. Sua mãe, Mônica, dedicou a vida à sua formação e conversão à fé cristã. Em 386, aconteceu sua crise de conversão. Um belo dia, meditando num jardim sobre a sua situação espiritual, ouviu uma voz próxima à porta que dizia: “Tome e leia”. Agostinho abriu sua Bíblia em Romanos 13.13-14.
 Essa leitura trouxe-lhe a luz que sua alma não havia conseguido encontrar nem no maniqueísmo nem no neoplatonismo. Separou-se de sua concubina e abandonou sua profissão de retórica. Sua mãe que tanto orara por sua conversão, morreu logo depois do seu batismo. De volta a Cartago, foi ordenado sacerdote em 391. Cinco anos depois foi consagrado bispo de Hipona. Daí até sua morte, em 430, dedicou sua vida à administração episcopal, estudando e escrevendo. Ele é apontado como o maior dos pais da Igreja. Deixou mais de 100 livros, 500 sermões e 200 cartas.

Na primavera de 430, os vândalos, uma tribo germânica convertida ao arianismo, invadiram a África romana e cercaram Hipona.   Agostinho passou seus últimos dias em oração e penitência, com salmos pendurados nas paredes de seu quarto para que pudesse lê-los.  
Notamos o fato interessante que, antes de morrer, ordenou que a biblioteca da igreja de Hipona e todos os seus livros fossem cuidadosamente preservados, e faleceu finalmente em 28 de agosto de 430  quando os vândalos, uma tribo germânica convertida ao arianismo,  já haviam invadido a África romana e cercaram Hipona.
Assim resume-se a vida deste personagem fantástico da história humana.






Agostinho - Contribuições para teologia

Aqui vamos fazer um breve apanhado de sua teologia, para uma consideração mais detalhada acesse aqui.
Agostinho escreveu ainda tratados  teológicos dos quais De Trinitate, sua obra sobre a Trindade, é o mais importante.  Agostinho escreveu também muitas obras polêmicas para defender a fé dos falsos ensinos e das heresias . 

Ele também escreveu   as Confissões, uma das maiores, e talvez a primeira, obras autobiográficas de todos os tempos. Nas páginas dessa obra, Agostinho abre a sua alma, fala sobre sua conversão, suas reflexões pessoais e sobre seus conceitos  pessoais. Neste livro também percebemos contribuições para psicologia ( permitam-me o anacronismo) e filosofia.

Polemista capaz, pregador talentoso, administrador episcopal competente, teólogo notável, ele criou uma filosofia cristã da história que em sua essência, continua válida até hoje.  Vivendo num tempo em que a velha civilização clássica parecia sucumbir diante dos bárbaros, Agostinho se posicionou entre dois mundos, o mundo clássico e o novo mundo medieval. Para ele, os homens deveriam olhar adiante para a “Cidade de Deus”, uma civilização espiritual, uma vez que a velha civilização clássica estava passando.  O próprio Agostinho considerava ser essa sua grande obra. 
Agostinho defendeu o cristianismo contra diversas heresias que se insurgiram contra a Igreja em sua época. Entre elas o maniqueísmo ( que anteriormente fizera parte), o docetismo, o ebionismo e o, o pelagianismo . Sua De Haeresibus é uma história das heresias.

 No período entre Paulo e Lutero, a Igreja não teve mais ninguém da envergadora moral e espiritual de Agostinho.

Agostinho - Contribuições para a Filosofia

Embora ele tenha livros que tratem especificamente de assuntos filosóficos, a obra filosófica de Agostinho é permeada pelo seu caráter teológico. Suas principais obras filosóficas são:  Contra Acadêmicos, crítica do ceticismo; De beata vita, sobre a felicidade; De ordine, sobre a origem do mal: os Coliloquia, um apaixonado diálogo consigo mesmo sobre a imortalidade da alma; De immortalitate animae; De quantitate animae, sobre a mesma questão;

 Agostinho considera a filosofia fundamentalmente como uma auxiliar do o cristianismo, todo o seu interesse central está portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da alma, visto serem os mais importantes e os mais imediatos para a solução integral do problema da vida.
O problema do conhecimento  é resolvido   superando o ceticismo acadêmico mediante o iluminismo platônico. Inicialmente, ele conquista uma certeza: a certeza da própria existência espiritual; daí tira uma verdade superior, imutável, condição e origem de toda verdade particular. Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sensível em relação ao conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, são fontes de conhecimento.  No Verbo de Deus existem as verdades eternas, as idéias, as espécies, os princípios formais das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos as verdades eternas e as idéias das coisas reais por meio da luz intelectual a nós participada pelo Verbo de Deus. Como se vê, é a transformação do inatismo, da reminiscência platônica, em sentido teísta e cristão.  
A filosofia  moral agostiniana é teísta e cristã e, logo, transcendente e ascética. Nota característica da sua moral é o voluntarismo, a saber, a primazia do prático, da ação - própria do pensamento latino - , contrariamente ao primado do teorético, do conhecimento - próprio do pensamento grego. A vontade não é determinada pelo intelecto, mas precede-o. Não obstante, Agostinho tem também atitudes teoréticas como, por exemplo, quando afirma que Deus, fim último das criaturas, é possuído por um ato de inteligência. A virtude não é uma ordem de razão, hábito conforme à razão, como dizia Aristóteles, mas uma ordem do amor.
Entretanto a vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. E deve-se considerar não causa eficiente, mas deficiente da sua ação viciosa, porquanto o mal não tem realidade metafísica. 

Quanto à política , ele tem uma concepção negativa da função estatal; se não houvesse pecado e os homens fossem todos justos, o Estado seria inútil. Consoante Agostinho, a propriedade seria de direito positivo, e não natural. Nem a escravidão é de direito natural, mas conseqüência do pecado original, que perturbou a natureza humana, individual e social. Ela não pode ser superada naturalmente, racionalmente, porquanto a natureza humana já é corrompida; pode ser superada sobrenaturalmente, asceticamente, mediante a conformação cristã de quem é escravo e a caridade de quem é amo.

Agostinho foi profundamente impressionado pelo problema do mal.   Para ele, o mal não é ser, mas privação de ser, como a obscuridade é ausência de luz. Tal privação é imprescindível em todo ser que não seja Deus, enquanto criado, limitado. Destarte é explicado o assim chamado mal metafísico , que não é verdadeiro mal, porquanto não tira aos seres o lhes é devido por natureza. Quanto ao mal físico , que atinge também a perfeição natural dos seres, Agostinho procura justificá-lo mediante um velho argumento, digamos assim, estético: o contraste dos seres contribuiria para a harmonia do conjunto.
Quanto ao mal moral, finalmente existe realmente a má vontade que livremente faz o mal; ela, porém, não é causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal não-ser. Este não-ser pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e não de Deus, que é puro ser e produz unicamente o ser. 
Como é notório, Agostinho trata do problema da história na Cidade de Deus , e resolve-o ainda com os conceitos de criação, de pecado original e de Redenção. A Cidade de Deus representa, talvez, o maior monumento da antiguidade cristã e, certamente, a obra prima de Agostinho. Nesta obra é contida a metafísica original do cristianismo, que é uma visão orgânica e inteligível da história humana. 
Agostinho distingue em três grandes seções a história antes de Cristo. A primeira concerne à história das duas cidades , após o pecado original, até que ficaram confundidas em um único caos humano, e chega até a Abraão, época em que começou a separação. Na Segunda descreve Agostinho a história da cidade de Deus , recolhida e configurada em Israel, de Abraão até Cristo. A terceira retoma, em separado, a narrativa do ponto em que começa a história da Cidade de Deus separada, isto é, desde Abraão, para tratar paralela e separadamente da Cidade do mundo, que culmina no império romano. 
A concepção de história é, em Santo Agostinho, uma concepção aberta.  A importância desta filosofia-teologia da história ressalta mais quando se tem em conta que em toda a história da filosofia será preciso esperar Hegel para encontrar outra concepção igualmente global e completa .

A BUSCA DA VERDADE
A filosofia agostiniana é uma constante busca da verdade, que culmina na Verdade, em Cristo. É um movimento incessante, uma paixão, e, precisamente, a paixão principal: o amor. “Amor meus, pondus meum”, o amor é o peso que dá sentido à minha vida. Verdade e Amor.“Fizeste-nos, Senhor, para Ti e o nosso coração estará inquieto enquanto não descansar em Ti”, diz nas Confissões.

Se incita a ter fé para entender, também anima a entender para crer melhor. Nada nos pode fazer duvidar da possibilidade de chegar à verdade. Nada valem os argumentos céticos. A verdade está no interior do homem. “Não queiras sair para fora; é no interior do homem que habita a verdade”. E há verdades constantes, inalteráveis, para sempre. Dois mais dois serão sempre quatro. Santo Agostinho tenta esclarecer de onde pode vir essa verdade. Não das sensações, diz, porque essas são e não são, são mutáveis, efêmeras. Tampouco do espírito humano, que, por profundo que seja, é limitado. Essas verdades eternas só podem ter por autor Aquele que é eterno: Deus. São reflexos da verdade eterna, que nos ilumina e nos permite ver. Nisso consiste o que depois ficou conhecido como “doutrina da iluminação.



Agostinho - Contribuições para a Psicologia

Suas incursões na psicologia são bastante interessantes embora sejam menos freqüentes que na filosofia e na teologia.
O famoso cogito de Descartes ("Penso, logo existo"), em que a evidência do eu resiste a toda dúvida, é genialmente antecipado por santo Agostinho em seu "Se me engano, sou; quem não é não pode enganar-se". Ele valoriza, pois, a pessoa humana individual até quando erra (o que, neste aspecto, não a torna diferente da que acerta). Talvez por isso dê o mesmo peso à parte humana e à parte divina no que diz respeito à encarnação do Cristo.

 Talvez a obra mais conhecida de sua lavra sejam as Confissões, uma das maiores obras autobiográficas de todos os tempos. Nas páginas dessa obra, Agostinho abre a sua alma. O livro traz no primeiro parágrafo a citadíssima frase: “Tu nos fizestes para ti e nosso coração não descansará enquanto não repousar em ti”.. Essa necessidade só foi preenchida por sua experiência da graça de Deus. Também a psicologia agostiniana harmonizou-se com o seu platonismo cristão. Por certo, o corpo não é mau por natureza, porquanto a matéria não pode ser essencialmente má, sendo criada por Deus, que fez boas todas as coisas. Mas a união do corpo com a alma é, de certo modo, extrínseca, acidental: alma e corpo não formam aquela unidade metafísica, substancial, como na concepção aristotélico-tomista, em virtude da doutrina da forma e da matéria. A alma nasce com o indivíduo humano e, absolutamente, é uma específica criatura divina, como todas as demais. Entretanto, Agostinho fica indeciso entre o criacionismo e o traducionismo, isto é, se a alma é criada diretamente por Deus, ou provém da alma dos pais. Certo é que a alma é imortal, pela sua simplicidade. Agostinho, pois, distingue, platonicamente, a alma em vegetativa, sensitiva e intelectiva, mas afirma que elas são fundidas em uma substância humana. A inteligência é divina em intelecto intuitivo e razão discursiva; e é atribuída a primazia à vontade. No homem a vontade é amor, no animal é instinto, nos seres inferiores cego apetite.




Agostinho - Contribuições para a Educação

Agostinho é considerado uma figura muito influente na história da educação e uma de suas primeiras obras, De Magistro ("Do Professor"), contém muitos de seus pensamentos sobre o tema.
Agostinho possuía  experiência de ensino. Havia sido professor em Milão e Roma por vários anos , lecionava  retórica e gramática. O método de Agostinho é o que formou o método ocidental de ensino  ele estabeleceu uma metodologia cristã, que influenciou estudiosos e educadores ao longo da história do Ocidente.
  Agostinho acreditava que a educação era uma busca incansável por compreensão, significado e verdade que sempre deixa aberto o espaço para a dúvida, o desenvolvimento e a mudança.  Agostinho acreditava ainda que o diálogo, a dialética e a discussão eram as melhores formas de aprender e que este método deveria servir de modelo para as aulas.

Agostinho introduziu o método pedagógico na qual os professores  respondem positivamente às questões que possam receber de seus estudantes, mesmo quando forem interrompidos. Agostinho também criou o estilo "contido" de ensino, que assegurava a compreensão completa de um conceito pelos estudantes através de táticas simples: não bombardeá-los com matéria em excesso; foco em um tópico por vez; ajudar na compreensão do tema ao invés de avançar a matéria rapidamente; antecipação de questionamentos; e, finalmente, ajudar na resolução de dificuldades e na busca pela solução dos problemas.

 Segundo ele, existem dois estilos básicos: o "estilo misto", que utiliza linguagem complexa, por vezes "exibida", para ajudar os estudantes a enxergarem a arte e a beleza que está por trás do tema estudado, e o "estilo grandioso", que não é tão elegante quanto o misto, mas é apaixonado e sincero, e tem com objetivo inflamar uma paixão similar a do professor no coração dos estudantes.

De um modo geral o ensino deve ser feito no que Agostinho chamou o "método moderado". Esse estilo de ensino exige que o professor não sobrecarregue o aluno com muito material, mas aborde um tema de cada vez, para revelar ao aluno o que está escondido nele, para resolver dificuldades, e antecipar outras questões que possam surgir. Considera importante até mesmo o modo de falar do professor, que deve ter em ritmo equilibrado, usando frases bem elaboradas em equilíbrio com frases simples, com o propósito de encantar os alunos e atraí-los para a beleza do material.

Agostinho influenciou diretamente o estadista e escritor romano Flavius Magnus Aurelius Cassiodorus (c. 490-c.583), que propôs o aprendizado progressivo a partir da leitura e interpretação dos salmos, conjuntamente com o ensino profano das artes liberais, buscando, como Santo Agostinho, criar no estudante uma mentalidade aberta e inteligente, e somente após, quando o aluno tivesse o intelecto treinado para um melhor entendimento, o ensino das matérias mais complexas.


Fontes



http://www.mundodosfilosofos.com.br/agostinho.htm Consultado em 12 de abril de 2016.

 Mendelson, Michael. "Saint Augustine". The Stanford Encyclopedia of Philosophy.  Consultado em 12 de abril de 2016.

Agostinho, Do Livre Arbítrio

http://www.cobra.pages.nom.br/ecp-santagostinho.html Consultado em 12 de abril de 2016.

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